Ser ou não
ser
* Por William Shakespeare
"Ser ou
não ser, eis a questão.
Será mais
nobre sofrer na alma
Pedradas e
flechadas do destino feroz
Ou pegar em
armas contra o mar de angústias
E,
combatendo-o, dar-lhe fim?
Morrer;
dormir;
Só isso. E
com o sono - dizem - extinguir
Dores do
coração e as mil mazelas naturais
A que a
carne é sujeita; eis uma consumação
Ardentemente
desejável. Morrer, dormir...
Dormir!
Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
Os sonhos
que hão de vir no sono da morte
Quando
tivermos escapado ao tumulto vital
Nos obrigam
a hesitar: e é essa reflexão
Que dá à desventura
uma vida tão longa.
Pois quem
suportaria o açoite
e os
insultos do mundo,
A afronta do
opressor, o desdém do orgulhoso,
As pontadas
do amor humilhado,
as delongas
da lei,
A
prepotência do mando, e o achincalhe
Que o mérito
paciente recebe dos inúteis,
Podendo, ele
próprio, encontrar seu repouso
Com um
simples punhal?
Quem
agüentaria fardos,
Gemendo e
suando numa vida servil,
Senão,
porque o terror de alguma
coisa após a
morte -
O país não
descoberto, de cujos confins
Jamais
voltou nenhum viajante
nos confunde
a vontade,
Nos faz
preferir e suportar males que já temos,
A fugirmos
para outros que desconhecemos?
E assim a
reflexão faz todos nós covardes.
E assim o
matiz natural da decisão
Se
transforma no doentio pálido do pensamento.
E
empreitadas de vigor e coragem,
Refletidas
demais, saem de seu caminho,
Perdem o
nome de ação".
Tradução de
Millôr Fernandes.
*
Dramaturgo, poeta e empresário inglês do século XVI
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