Manual de uso do manual
* Por
Marcelo Sguassábia
"Parabéns! Você
acaba de adquirir o que há de mais avançado...". Se o seu Manual não
começar assim, devolva o produto. Não o produto, o Manual dele, pois não é um
Manual legítimo, como manda o figurino. Sua devolução ao redator responsável
está prevista no Código de Defesa do Consumidor. Bem, se não está, deveria.
Uma vez lido (pelo
menos em suas principais partes) e estando o produto funcionando normalmente,
use o Manual como calço de pé de mesa bamba ou outra utilidade do gênero. Isso
porque já acabou a etapa em que você tinha que tê-lo à mão, ou seja, na
instalação da geringonça. Se precisar de novo dele para alguma eventualidade, é
mais fácil consultar na internet - que baixa no seu colo em PDF todos os
manuais já redigidos pelo homem.
Há indústrias que
alegam a obsolescência do Manual, e que a sua eliminação pura e simples como
item constante na embalagem do produto poderia reduzir o preço final em até 3%.
O argumento é que quase a totalidade dos consumidores lê e aplica apenas as
instruções do guia de instalação rápida, adiando a leitura do Manual completo
para o fim de semana seguinte. Acontece que o fim de semana chega e, com ele,
coisas bem mais interessantes para ler do que o nosso injustiçado Manual.
É bom lembrar que todo
e qualquer Manual sai de fábrica com garantia de um ano contra defeitos de
compreensão. Se mesmo após sucessivas tentativas de leitura o problema
persistir, ainda assim você poderá seguir alguns procedimentos antes de levar o
seu Manual à assistência técnica:
. Verifique o tamanho
da letra do texto e certifique-se de que ela é compatível com sua acuidade
visual. Consulte seu oftalmologista para informações mais detalhadas.
. O problema pode
estar na luminária - demasiadamente afastada ou com lâmpada de baixa potência.
Na dúvida, leve-a ao seu eletricista de confiança e siga suas instruções antes
de empreender nova tentativa de leitura.
. Por ter esse nome -
Manual - fica implícito que o mesmo não é automático. Se assim fosse, suas
instruções entrariam no cérebro sem o esforço consciente da parte do
consumidor. Assim, conforme-se com as limitações intrínsecas do mesmo e sua
natureza enfadonha.
* Marcelo Sguassábia é redator
publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com
(Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com
(portfólio).
Perfeito cujo clímax aconteceu quando o prazo de validade do Manual surgiu em cena: um ano.
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