A verdadeira crise
* Por
João Bosco Nogueira
Não se pode entender o
Brasil pelo que diz a grande imprensa, mormente a brasileira, porque ela sempre
foi e é ligada aos dominadores, de qualquer matiz. No Brasil atual, duas coisas
se veem ao mesmo tempo: os pecados dos petistas e a gula insaciável do
neoliberalismo, que volta, e com toda a força.
Por trás de nossa
crise, há uma briga de gigantes: de um lado, a aliança EUA/Europa (a União
Europeia está enfraquecida, seriamente ameaçada com as crises e, por isso,
curva-se aos EUA) e, do outro, o bloco dos Brics (a Rússia, em particular),
como no affair Crimea e Ucrânia.
Nossa crise é mais de
natureza externa, geopolítica, do que interna (corrupção/incompetência dos
governos petistas), questão insignificante no bojo de tudo isso. (Não estamos
subestimando a corrupção, que é grande, apenas a vemos como parte menor de
nossos problemas). Estamos noutra guerra fria, e o grande pavor do bloco
EUA/Europa é a possibilidade de deslocamento do centro de poder do Ocidente
para a Ásia (Rússia, Índia e China), com a real chance de adesão a este bloco
de toda a América Latina (Brasil à frente, já integrado aos Brics) e, depois,
de toda a África (África do Sul à frente). Daí, a rejeição aos Brics e às suas
iniciativas de independência.
É assim que se deve
ler as sistemáticas e intermináveis denúncias de incompetência e corrupção do
governo petista. O que interessa aos que dominam (os de fora e os de dentro do
Brasil), não é combater a corrupção, que existe e é grande, mas destruir o
governo petista e o próprio PT, que se opõem ao histórico alinhamento do Brasil
aos EUA. É esse o núcleo da crise.
O resto é estratégia
para enganar os incautos, para impedir que o Brasil seja uma outra China, ou
para não deixar que os Brics formem um outro pólo de poder, independente.
*
Professor da Uece
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