O marco inicial da Filosofia do
Ocidente
O primeiro filósofo ocidental de que se tem notícia é Tales,
natural da cidade da Ásia Menor de Mileto, no Sul da Jônia. Isso, em termos
cronológicos. Essa primazia, no entanto, deve-se exclusivamente ao fato de ser
o primeiro cujo pensamento foi registrado e chegou até nós. “Mas como?!”,
perguntará o pesquisador da História da Filosofia que saiba que nenhum dos
escritos desse emérito pensador sobreviveu ao desgaste do tempo. Mesmo sem que
nenhuma de suas obras tenha ficado incólume, no entanto, suas idéias filosóficas
não “morreram”. Sua sobrevivência deve-se ás pesquisas do historiador e biógrafo
grego Diógenes Laércio, aos comentários eruditos de Simplício de Cilícia e,
principalmente, a Aristóteles, que tratou delas com detalhes em seus livros.
Tales, portanto, foi instituído como uma espécie de “marco”
inicial da Filosofia do Ocidente, que teve seu ponto de partida, registrado, na
Grécia Antiga. Isso não quer dizer que não houve filósofos que o antecederam.
Houve, e muitos (cuja quantidade, é impossível
de determinar), quiçá milênios antes desse ilustre cidadão de Mileto,
descendente de fenícios, nascer. Ocorre que dos verdadeiros pioneiros não
restaram ínfimos registros, nem mesmo de seus nomes, quanto mais de suas idéias.
E Tales só não teve idêntico destino graças ao empenho dos pesquisadores que
citei. Ou seja, de Diógenes Laércio e a biografia que escreveu, de Simplício de
Cilícia (comentador da obra de Aristóteles) e, principalmente, deste filósofo
que teve seus trabalhos comentados, nos quais cita, a todo o momento, as idéias
filosóficas do cidadão de Mileto.
E o que Jostein Gaard diz a respeito desse “pioneiro oficial”
da Filosofia Ocidental em seu livro “O mundo de Sofia”? O escritor norueguês
escreve: “(...) O primeiro filósofo de que ouvimos falar foi Tales, da colônia
grega de Mileto. Ele viajou bastante pelo mundo. Entre outras coisas, diz-se
que ele calculou a altura de uma pirâmide no Egito medindo a sombra da pirâmide
no exato instante em que sua própria sombra tinha o mesmo comprimento da sua
altura. Ele também teria previsto um eclipse solar no ano 585 a.C. (...)”.
Mesmo que não se aceite Tales como o pioneiro da Filosofia Ocidental (embora
haja consenso a propósito), esse pensador merece, pelo que se conhece a seu
respeito, todo o respeito e veneração que se possa tributar a um gênio, que de
fato foi e que revolucione o mundo das idéias, lançando as bases das ciências.
E ele foi, mesmo, genial. Se não, vejamos.
Além de filósofo, foi matemático, autor, entre outros tantos
princípios da ciência dos números, do famoso teorema que leva seu nome (o que
propõe, como hipótese, que ele brilhantemente demonstrou, que “se duas retas
transversais são cortadas por um feixe de retas paralelas, então a razão entre
quaisquer dois segmentos determinados em uma das transversais é igual à razão
entre os segmentos correspondentes à outra transversal”). Mas não foi só isso
(o que já seria o bastante para imortalizá-lo). Tales foi engenheiro,
projetando e construindo complicadas engenhocas, sem nenhum dos recursos e
ferramentas de que hoje dispomos. Ou seja, foi uma espécie de “Professor Pardal”
da Grécia Antiga. Só isso? Ainda não. Tales de Mileto foi astuto homem de
negócios e respeitável astrônomo, o primeiro a explicar o eclipse solar, ao
verificar que a Lua é iluminada pelo Sol e não o contrário, como então se supunha.
Jostein Gaard, porém, enfatiza a principal razão do gênio de
Mileto ser tido e havido como o pioneiro da Filosofia Ocidental. Escreve: “(...)
Tales dizia que a água era as origem de todas as coisas. Precisamente o que ele
queria dizer com isso nós não sabemos. Talvez quisesse dizer que toda forma de
vida surgiu na água – e à água devesse retornar quando chegasse ao fim. Quando
esteve no Egito, certamente Tales pôde observar no delta do Nilo como os campos
inundados se tornavam férteis depois que as águas recuaram. Talvez também tenha
visto como do nada surgem sapos e rãs e como o campo fica verde após a chuva. É
portanto provável que Tales tenha especulado como a água pode se transformar em
gelo e vapor – e depois retornar à forma líquida (...)”.
O gênio de Mileto teria sido o primeiro a apontar o que, no
seu entender, era a “substância primordial” de todas as coisas no universo.
Embora hoje saibamos, de sobejo, que esta não é a água, sua preocupação em
descobri-la deu margem a que outros filósofos sugerissem outras coisas, dando
importante impulso à Filosofia. No livro “Metafísica”, Aristóteles observa o
seguinte a propósito da teoria de Tales: “(...) Tales diz que o princípio de
todas as coisas é a água, sendo talvez levado a formar essa opinião por ter
observado que o alimento de todas as coisas é úmido e que o próprio calor é
gerado e alimentado pela umidade. Ora, aquilo de que se originam todas as coisas
é o princípio delas. Daí lhe veio essa opinião e também a de que as sementes de
todas as coisas são naturalmente úmidas e de ter origem na água a natureza das
coisas úmidas (...)”.
A enciclopédia eletrônica Wikipédia traz uma explicação que
se faz indispensável citar: “Quando Tales disse que todas as coisas estão
cheias de deuses, ou que o magnetismo se deve à existência de ‘almas’ dentro de
certos minerais ele não estava invocando as palavras Deus e Alma, no sentido
religioso, como as conhecemos atualmente, mas sim adivinhando
intuitivamente a presença de fenômenos
naturais inerentes à própria matéria”. Voltarei a tratar desse filósofo e da
escola que fundou nos próximos dias.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Esses cérebros de brilho descomunal chegam a nos intimidar, além de encantar, naturalmente.
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