Sobre o amor
* Por
Eliane Triska
Amo-te nas perenes primaveras,
No estio dos setembros repetidos,
Nas letras comungando com as esperas
Dos livros - os penhores nunca lidos.
No balé dos meus sonhos te adiantas
Te dando à inocência... Tudo em vão!
Meu corpo, o repasto... e tu jantas
E encontras o pulsar de um coração.
Amo-te como o sol beija na testa
À semente a eclodir em solo bruto.
Céu-risos no perfume, o ar em festa
Da terra chora o útero em luto.
Já chega o junho, amor... Já é tão tarde!
Se fiel ao amor? ... Nem sei se o tenho!
Nem sei se é própria a dor do amor que invade
O amor, ou se é igual a que eu contenho.
Amo-te nos lamentos outonais.
É meia-noite... Ah, inquietações!
E em tua boca doce ... Quero mais!
E, durmo arquitetando ilusões.
Que importam os meus cantos solitários
- Se, um a um, a cega pauta tomba -
Darem vozes aos tempos libertários,
Se, afogam-se à noite. Grande onda!
Amo-te qual farrapo e descrente,
Se descrente o desejo só embriaga,
Eis-me à sede, à deriva e indigente
Sem um chão, um cobertor. Dá-me água!
Amor não vês? Sujeita ao teu domínio,
Afundo-me em choros sem pudores.
Tu mentes! Pois se és filho do destino
Por que só dás a mim tuas próprias dores?
Canoas, junho de 2009/RS
*
Poetisa gaúcha residente em Canoas/RS
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