Os livros mais vendidos de 2015
O “ranking” dos livros mais vendidos em 2015 é, para mim,
dos mais decepcionantes, com todo respeito aos autores que conseguiram a
façanha de obter sucesso de vendas em um país que, convenhamos, não prima pelo hábito
(e pelo gosto) da leitura. Refiro-me, aqui, especificamente, à relação
divulgada pelo site Publishnews, especializado em pesquisa do mercado
editorial. Tem, portanto, total credibilidade. Ademais, ele não difere muito de
outras tantas listas divulgadas por outras mídias. É certo que o ranking ainda
é parcial, sujeito a mudanças. Mas não creio que estas aconteçam nas principais
posições. No “top 10”, não há, por exemplo, nenhum livro de poesias, o que
sequer me espanta e nem surpreende, por não ser nenhuma novidade. Poetas temos
muitos, e bons. O que não temos é leitores que apreciem poesia. Pior para eles.
Crônicas e contos, igualmente, não aparecem entre as obras mais vendidas nas
principais livrarias do País, muito menos ensaios, filosofia e peças teatrais.
Lideram a relação dos dez mais vendidos no ano dois livros
que nem mesmo são livros. Têm seu formato e aspecto, é verdade, mas não têm
textos, apenas desenhos. Destinam-se a serem coloridos, mas não por criancinhas
do jardim de infância, como acontecia há não muito tempo, mas por marmanjos. Refiro-me
a “Jardim secreto” e “Floresta encantada”, ambos da ilustradora escocesa
Johanna Basford, lançados pela Editora Intrínseca, que ocupam, respectivamente,
a primeira e segunda colocação do “top 10” da Publishnews. Vem em terceiro
lugar um livro precioso, mas não de Literatura, como a entendo. Trata-se de “Philia”,
do Padre Marcelo, tratando das questões de amor, notadamente pelo enfoque
espiritual. É, porém, uma obra que recomendo. Foi lançada pela Editora Principium.
O quarto livro mais vendido de 2015 é “Nada a perder”, parte
3, do bispo Edir Macedo. É uma espécie de autobiografia do fundador da Igreja
Universal, portanto, com público específico e vendas garantidas. Foi lançado
pela Editora Planeta do Brasil. O 5º colocado no “top 10” tem tudo a ver com a
internet. Trata-se do livro “Muito mais que 5inco minutos” (e não cometi erro
de digitação: o cinco do título da obra aparece com o numeral 5 no lugar da
letra “c”). Sua autora é a atriz, escritora e “vloger” curitibana Kefera
Buchmann. Não me espanta seu sucesso editorial, já que ela conta com
praticamente doze milhões de seguidores nas redes sociais (pobre de mim que não
tenho sequer 1.200!!!). Seu livro, lançado pela Editora Paralela, pode ser considerado
autobiográfico, já que ela narra várias histórias de situações que viveu.
Chegamos ao sexto lugar. Este é ocupado pela obra “Ansiedade:
como enfrentar o mal do século”, de autoria de um campeoníssimo de vendas, que
em todos os anos está, invariavelmente, presente, nos “top 10”, ou seja,
Augusto Cury. O leitor já adivinhou que este lançamento da Editora Saraiva é um
livro da linha de auto-ajuda. É uma obra que também recomendo, pelo seu útil e
oportuno conteúdo. O sétimo lugar cabe ao polêmico “Grey”, da não menos
polêmica autora inglesa E. L. James. Trata-se de novo livro da franquia “Cinquenta
tons de cinza”, em que a história é contada do ponto de vista de Christian Grey.
Também tem público cativo, sobretudo, o feminino. Se tivesse quer fazer uma
avaliação dessa obra, assinaria embaixo a opinião do “Telegraph”, que a considerou
“tão excitante quanto o diário de um agressor sexual”. Barbaridade!!!!
O oitavo colocado é um fenômeno no mundo, que atravessa o
tempo e encanta sucessivas gerações. Foi lançado no ano em que nasci (1943),
pouco antes de eu completar três meses de idade, e desde então não parou de ser
vendido mundo afora. Refiro-me a “O pequeno príncipe”, de Antoine de Saint-Éxupery.
Em três semanas, completarei 73 anos de idade, e o livro do aviador francês continua
vendendo a rodo. Ouvi muito medalhão, metido a entendedor de Literatura, dizer,
com arrogância, que se trata de “história melosa e piegas”. Fico pasmo com a
burrice de certas pessoas. Considero “O pequeno príncipe” delicadíssimo poema
em prosa, daí encantar a tantas gerações. Esta edição, que foi a oitava em
vendas de 2015, é da Editora Agir.
Estamos chegando ao final do “top 10” e, até aqui, não
apareceu nenhum livro de impacto (à exceção da obra de Saint-Éxupery), desses
geniais, lançados para durar. E... não vai aparecer. O nono colocado tem,
também, tudo a ver com a internet. Trata-se de “Eu fico loko” (escrito assim
mesmo, com “k” e sem o “u”, para caracterizar quem é tomado pela loucura), de
autoria de Christian Figueiredo de Caldas. O título do livro é o mesmo do “vlog”
que ele mantém no Youtube, com mais de 1,5 milhão de seguidores e mais de 100
milhões de visualizações. O autor conta, em vídeos (no Youtube) e em textos (no
livro), histórias reais e inéditas, algumas das quais meio que constrangedoras,
da sua infância e adolescência. Há quem goste. O que fazer?!
Finalmente, o “top 10” termina com uma obra de ficção.
Trata-se de “Não se apega, não”, de Isabela Freitas, lançamento da Editora
Intrínseca. A autora narra os percalços vividos por sua personagem para encarar
a vida e não se apegar ao que não presta. Ah, apenas a título de informação, o
décimo primeiro livro mais vendido de 2015 é, também, de Isabela. O título é um
tanto parecido com o anterior: “Não se iluda, não”, do qual é uma espécie de
continuação.
E daí, leitor, ficou decepcionado com o (mau) gosto
literário dos que podem comprar livros (e que por isso compraram)? Eu fiquei. A
culpa, porém, não é das editoras, que oferecem ao público aquilo que ele quer e
que, ademais, lançaram obras muito boas que, no entanto, não “emplacaram”.
Concluo que a culpa é dos professores de português, das escolas (públicas e
particulares) dos vários graus. É fácil de concluir que eles estão pecando em
apresentar aos alunos livros e autores que realmente valem a pena. E isso fará
diferença enorme na vida deles, no futuro.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
O que realmente importa, nós nem ficamos sabendo que obra é. É preciso garimpar, comprar e tentar fazer tal livro sair do anonimato.
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