Isso
é machismo! Isso é crueldade penal
* Por
Paulo Ghiraldelli Jr.
ISSO É MACHISMO. 87%
das prisioneiras no Brasil não cometeram nenhum delito a não ser tentar levar
droga para dentro da prisão onde estão seus maridos, para que eles possam pagar
dívidas internas ou simplesmente evitar serem molestados. Essas mulheres são
pessoas que nunca lidaram com tráfico. Em geral, gastaram tudo que tinham com a
droga, num ato de desespero. Não possuem antecedentes criminais.
É um crime de amor.
Talvez nem deva ser pensado como crime. A punição poderia ser simplesmente a
determinação de não mais poder fazer a visita íntima ou coisa parecida. Já
seria uma pena duríssima. Agora, tornar essas mulheres marginais, é apenas
machismo. Não há nenhuma outra explicação para tal prisão.
Nesse caso, é visível,
pune-se a mulher por ser mulher. As declarações dos juízes deixam claro isso.
Uns chegam a dizer, inclusive em gravações e até em textos assinados (!), que
se fosse um homem levando droga no ânus, a pena não seria a mesma, não seria
tão dura, mas como a mulher levou a droga na vagina, isso é “inconcebível”. Por
que “inconcebível”?
Cada juiz se torna
dono da mulher e a julga pelo ato de colocar a droga na vagina, e não levar a
droga para dentro da prisão. Torna-se dono da mulher porque já se considera, em
relação à mulher, mais que um juiz criminal, mas um corretor moral, quase um
demiurgo que tem o direito de traçar o destino de todas as mulheres. Fala alto
na sua orelha o diabinho que o instiga contra a mulher por ela ser mulher, ou
seja, por ter uma vagina posta duplamente a serviço de um homem. Então, ela é
puta. E o juiz a pune como quem está punindo o que ele mais odeia, a puta. Pois
trata-se da puta que não o serviu, mas serviu de modo arriscado e amoroso outro
homem. Puta não tem o direito de amar, principalmente outro homem que não ele,
o juiz, é esse lema que comanda o seu julgamento.
Isso tudo precisa
acabar. Não há sentido em prender mulheres por tal coisa. Chega! Essa forma de
crueldade não pode continuar.
PS: talvez as
feministas pudessem distinguir melhor o que é machismo e o que não é, se vissem
a cadeia causal e a cadeia de razões em cada situação. Muitas vezes o machismo,
se existe, é secundário em uma cadeia de razões. E as feministas confundem o
caso. Nesse caso, não há razão alguma que não a disposição contra mulher por
ela ser mulher, e isso caracteriza muito bem o machismo.
*
Filósofo
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