Será que o objetivo da vida é viver?
O “pai” da Teoria da Relatividade, Albert Einstein – físico alemão
que revolucionou as ciências, tido e havido como um dos maiores gênios que a
humanidade já conheceu – escreveu, em determinado trecho do seu livro “Como
vejo o mundo”, em tom de conselho: “Se quiser ter uma vida plena prenda-a a um
objetivo, não às pessoas nem às coisas”. Cá para nós, será que as coisas,
então, são tão simples, como o eminente cientista afirmou? Basta que você se auto-imponha
determinada meta a alcançar para que se sinta realizado e justifique sua
presença no mundo? Desconfio que não. Ademais, quem sabe o objetivo de ter sido
o “escolhido” (e, convenhamos,aleatoriamente) pela natureza para viver?
Todavia, qual é a razão de sermos nós, especificamente, os
convocados para esta aventura fascinante, mas perigosa e incerta, e não outra
combinação qualquer de espermatozóide e óvulo? Existe alguma? Qual? Qual a
verdadeira finalidade da vida? Existe alguma? Há uma única? São várias? Por que os seres – animais ou vegetais, não
importa – nascem, se desenvolvem e se reproduzem, se estão, irremediavelmente,
condenados a morrer? Não seria um desperdício? Há vida em outras partes do
Universo? Caso a resposta seja afirmativa, onde? E mais, nessa mesma hipótese,
ela é igual, semelhante ou diferente da existente na Terra? São perguntas,
perguntas e mais perguntas, infinitas delas, sem respostas adequadas ou sequer
satisfatórias...
Escrevi muito sobre este tema – e o leitor que me é fiel e
não apenas ocasional, é testemunha – possivelmente não com estas mesmas
palavras, mas com outras semelhantes e com o mesmo sentido, sem que sequer me
aproximasse de uma conclusão minimamente lógica e verossímil. Não creio que
haja alguém capaz de responder a estas questões. Em outro texto sobre o mesmo
assunto, citei esta declaração do fotógrafo e pintor luxemburguês (que fez
carreira nos Estados Unidos), Edward Steichen, que expressa a mesma
perplexidade que tenho a respeito: “´É possível compreender os estragos da
bomba atômica. Mais difícil é entender o significado da vida”. Eu apenas
substituiria a palavra “difícil”, por esta outra: “impossível”. Afinal, há
milênios, notáveis filósofos vêm procurando, em vão, essa explicação, se é que
ela existe.
A compreensão do intrincado mecanismo da vida, se já não é
completa, está próxima disso. Fica a cada dia mais clara, por exemplo,
dados os avanços da ciência, notadamente da genética. A morfologia e o
funcionamento das células, tecidos, órgãos, aparelhos e organismos vivos já
perderam quase todos seus mistérios. Cientistas já mapearam a totalidade do genoma
humano e estão habilitados a prevenir doenças dos fetos ainda no ventre materno.
Bebês de proveta há muito deixaram de ser novidade. A engenharia genética já é
capaz de mesclar características de diferentes espécies numa só (os
transgênicos) ou de clonar qualquer um de nós, partindo de quaisquer das nossas
células, não mais necessariamente as da reprodução natural. Porém... no que se
refere aos objetivos da vida, a ciência, e sua “mãe”, a Filosofia, continuam “no
escuro”. Sequer se aproximaram de alguma conclusão minimamente lógica.
Há quem faça desse questionamento interminável matéria-prima
de sua arte, não importa qual. Confesso que sou um deles. Para uns, o objetivo
prioritário da vida é conquistar esse estado ideal de espírito chamado de “felicidade”.
Para outros, viver significa competir e
vencer as competições, não importa quais e nem como obter esse sucesso. Para
terceiros (suponho que a maioria) a finalidade da sua existência é o acúmulo de
bens, é deter riquezas, é contar com
poder e é satisfazer os sentidos. Há ainda outra corrente, talvez composta por
pessoas um pouco mais sensatas, que impõe como objetivo para suas vidas o
processo inverso dos chamados materialistas: o de deixar algum legado, em obras
– materiais, artísticas ou espirituais –,
idéias ou exemplos.
Para o filósofo norte-americano, Ralph Waldo Emerson, a
felicidade não deve ser levada em conta nessa questão. Tanto que ele escreveu,
em um de seus tantos ensaios: “O objetivo da vida não é ser feliz. É ser útil,
honrado, compassivo, fazendo com que nossa vida, bem vivida, faça alguma
diferença”. Para compreender sua postura, tem que se levar em conta que o
referido pensador era “puritano”, que entendia que o sofrimento era algo
necessário para purgarmos um suposto “pecado original”, com o que discordo.
Concluo estas descompromissadas reflexões com as palavras com que concluí
artigo que publiquei no jornal “Correio Popular” de Campinas, em 28 de março de
1991 sobre o mesmo tema:
“Teorias para explicar os objetivos e,
sobretudo, o significado da vida, abundam, a maioria de caráter esotérico,
usando jargões próprios para os ‘iniciados’ (ou tolos?), com expressões
complicadíssimas, num arremedo de sabedoria, que no final das contas não passa
de estupidez, que pouco ou nada significam. Não passam de fantasias delirantes,
de engodos e de empulhações. Mas sempre contam com hordas de fanáticos
seguidores. O verdadeiro e, sobretudo, o belo, são simples. A beleza está na
simplicidade. E embora o homem seja incapaz de entender o significado da vida
(e talvez por isso mesmo), com que facilidade ele a suprime! Inventa máquinas
sofisticadíssimas de assassinatos em massa, dizima espécies e mais espécies de
animais e vegetais (que um dia lhe farão muita falta) e elabora, com extremo
cinismo, pomposas, mas abstratas, justificações para o injustificável: as
guerras!
Apesar do ‘disfarce’ de modernidade,
portanto, não passamos do primitivo animal, dito racional, que apenas trocou as
cavernas primitivas por mansões, apartamentos ou casebres em infectas favelas
de superpopulosas e violentas cidades”. Ao fim e ao cabo, endosso a perplexidade do poeta francês
Paul Claudel, que trouxe à baila, nesse contexto, sábia e pertinente indagação
que talvez tenha em si a própria resposta: “Será que o objetivo da vida é
viver?” Será?!!!!
Boa leitura
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Acrescentaria nos motivos para viver, a Adoração a Deus e a contemplação única e simples como os monges. Quanto ao Editorial, leio você desde fevereiro de 2007. Eu fico impressionada com a sua preocupação com o tema, e noto que não avança nada. As perguntas e as respostas continuam as mesmas. Eu tenho certeza que isso o angustia. Acredita que eu não me importo com isso? Não sinto a perplexidade que você tem em existir.Isso não me faz melhor e nem pior, apenas com buscas diferentes.
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