Persistência na escalada das “montanhas”
A obstinação, ou seja, a perseverança na busca de um
objetivo, é fator primordial para o sucesso de qualquer empreendimento. Claro,
só isso não basta. É preciso que o que colocarmos como meta a alcançar seja
alcançável. Nem sempre é. Há coisas que desejamos obter, ou realizar, que estão
muito além das nossas forças, ou do nosso conhecimento, ou da nossa capacidade,
dependendo da sua natureza. É
indispensável, pois, que sejamos potencialmente capazes de levar a bom termo o
empreendimento almejado. Se não formos (nem é preciso enfatizar) de nada valerá
a obstinação, ou perseverança, ou teimosia, ou chamemo-la da forma que
queiramos chamar. Persistir, nesse caso, será estúpida perda de tempo e fonte
mais do que certa de frustração.
Supondo, porém, que o que desejamos realizar (ou, quando o
caso, obter), estiver ao nosso alcance, não for superior às nossas forças ou à
nossa capacidade intelectual, desistir da sua obtenção será ato de explícita
covardia. É muito fácil (e cômodo), embora contraproducente, abandonar uma
tarefa pelo meio, quando surgirem dificuldades, às vezes sequer muito grandes,
mas que nos exijam maior dose de aplicação, de esforço, de talento ou apenas de
persistência. Nada (ou quase nada) virá automaticamente, num piscar de olhos,
como que num passe de mágica, às nossas mãos. Conheço muitas pessoas, do meu
círculo de amizades, com imensa cultura, pleno domínio do idioma e das regras
da escrita, que começaram a escrever determinado livro e... deixaram-no pela
metade. Por que? Simplesmente por não conseguirem solucionar alguns
probleminhas que, com um pouquinho só de esforço, de pesquisa, de raciocínio
seriam facilmente resolvidos. Desconfio que perderam a oportunidade de produzir
uma obra-prima, mas não por incapacidade, mas por medo, ou por inércia, ou
mesmo por preguiça, sabe-se lá.
Victor Hugo escreveu (e citei esse trecho do bem-sucedido
escritor francês diversas vezes, em variados contextos) : "Todo o segredo
dos grandes corações está nesta palavra: 'perseverar'. A constância diz que
espécie de homem há dentro de nós, qual é a nossa personalidade e a dimensão da
nossa coragem. Os constantes são os sublimes. Quem é apenas bravo tem só um
assomo, quem é apenas valente tem só um temperamento, quem é apenas corajoso
tem só uma virtude; o tenaz, porém, tem a grandeza". Tenacidade é sinônimo
de persistência. Só ela conduz ao verdadeiro heroísmo. E este é muito mais
simples do que a maioria entende. Consiste, antes e acima de tudo, em vencermos
nossas deficiências e em conquistarmos nossos sonhos... Persistir, persistir e
persistir. Este é o segredo dos vencedores. Nunca devemos desistir do que tenhamos
plena convicção que signifique nossa evolução, desde que, todavia, contemos com potencial para
realizar (ou conseguir), apenas porque surgiram dificuldades imprevistas, não
importa de que tamanho. Poucos, pouquíssimos, ostentam essa virtuosa
“obstinação".
Para uma vida útil e produtiva, que se caracterize por algo
mais nobre do que a mera sobrevivência física, precisamos, antes e acima de
tudo, ter um alvo, contar com determinada meta, com algo que nos desafie e nos
mobilize. Temos que nos empenhar ao máximo, com disciplina, empenho e
dedicação, para atingir essa culminância, sem desânimos e nem esmorecimentos.
Não podemos, todavia, assim que alcancemos o sucesso, nos acomodar e achar que
já fizemos a nossa parte. Nunca fazemos. Nossa missão jamais termina. Não, pelo
menos, antes da nossa morte. Haverá sempre novas empreitadas, novas conquistas,
novas realizações a nos desafiarem, em Literatura e na vida. É a isso que
classifico de “viver”, e não meramente de sobreviver. Nelson Mandela, uma das
figuras públicas que mais admiro, por sua magnífica trajetória e espírito de
conciliação, disse, certa ocasião, em memorável discurso: “Depois de escalar
uma montanha muito alta, descobrimos que há muitas outras montanhas por
escalar”.
Vocês já imaginaram se Mandela desanimasse e “entregasse os
pontos”, tão logo foi condenado à prisão perpétua? Mas não desanimou. “Escalou”
a alta e acidentada montanha da resistência pacífica, por quase 28 anos de
cárcere. Libertado, aspirou, e conseguiu, a presidência da África do Sul.
Presidente, em vez de vingar-se dos responsáveis por seu longuíssimo
encarceramento, promoveu a conciliação entre negros e brancos. Ou seja,
“escalou todas as montanhas” com que se defrontou e terminou a vida respeitado,
glorificado e amado pelo povo sul-africano, por negros e brancos. Houvesse
desanimado quando de sua condenação, hoje estaria esquecido, como tantos e
tantos prisioneiros o foram. .
Tempos atrás, escrevi uma crônica na qual enfatizei, à certa
altura: “Somos o que mentalizamos. Se nos virmos como fracos, como tíbios, como
doentios e carentes, nos transformaremos nesse estereótipo que criarmos. Mas o
contrário também é verdade”. E concluí esse raciocínio da seguinte forma
(conclusão esta que cabe a caráter para encerrar estas reflexões): “O que cada
um de nós tem que fazer é se impor. É provar, se preciso, que o mundo inteiro
está errado em relação à imagem que tem de nós. É não nos deixarmos abater
diante de opiniões e atitudes negativas e preconceituosas alheias. Mas essa
demonstração de força não se pode fazer apenas com palavras, que surtem ínfimo
efeito ou até mesmo nenhum. Exige ação, mesmo que o corpo teime em pedir
repouso. Requer energia, tirada não se sabe de onde, mas que tem que ser
encontrada. Impõe, sobretudo, férrea e inflexível força de vontade”. Tente,
querido e imprescindível leitor.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: !bondaczuk
Hoje eu desisti de um objetivo. Algumas vezes a desistência serve para angariar energia para outra jornada.
ResponderExcluir