Questão
de ordem ou uma questão de desordem*
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Por Jair Antonio Alves
Quando surgiu como
dramaturgo, nas décadas de 70 e 80, já se sabia que Naum Alves de Souza marcaria
para sempre o seu nome na Cultura brasileira. A peça No Natal a Gente vem te
buscar, por exemplo, “assustou” os profissionais da área pela forma original e
sensível de “desenhar” o Teatro. Agora, trinta e poucos anos após, com este
maravilhoso retorno de Suburbano Coração a incógnita sobre Naum aumenta de
volume – com que ideia está “fora de lugar” esse teatro de extrema
sofisticação, ou o misencene diário que tortura corações e mentes da política
nacional, aonde não faltam vilões embusteiras?
Outras questões ficam
sem resposta – por que uma atriz e produtora como Luiza Jorge, sem dúvida, em
seu melhor trabalho teatral está ameaçada por ter sua temporada interrompida em
apenas poucas semanas em cartaz; por que a grande revelação como diretor nos últimos
anos, Nelson Basqueville (definitivo na história contemporânea) a exemplo de
José Celso, Antunes e Plínio Marcos, noutros tempos?
Por que essa
“gritaria” toda numa simples avaliação crítica, dentre centenas de espetáculos
oferecidos ao grande público paulista?
A resposta poderá ser
lacônica - Tudo está errado!!!
O projeto Suburbano
Coração levou dois anos para chegar à cena, agregando um elenco de primeira e
uma equipe técnica de alto nível, que dá suporte a esta parceria (Naum, Luiza e
Basqueville). Juntos, conseguiram produzir um fenômeno artístico sem
precedentes correndo o risco de não “decolar”, em razão do caos que se instalou
nos meios culturais, artísticos e comunicação nos últimos tempos. A
inexistência de uma política cultural, Oficial, adequada ao momento
Político-Econômico-Social do presente, pode levar à destruição por completo de
fundamentos daquilo tudo quanto foi produzido nos últimos cinquenta anos. Podem
ter certeza, a produção do espetáculo já citado fez com que a sua parte levou
ao extremo a criação e auto-sensiblidade. Naum Alves de Souza escreve uma
comédia que é o próprio retrato na luta
das mulheres, no Brasil industrial pós-guerra. Essa radiografia sepulta o sonho
de “Cinderela” em que a nação brasileira deixou lá atrás, quando a telenovela
Antonio Maria (tevê Tupi) ditava os modos de vida. Luiza Jorge, como atriz e
produtora, encarna o sonho subliminar de milhares de outras brasileiras que
acreditaram, enfim, no sonho que agora parece um pesadelo. Falamos de
bancárias, professoras, operárias, jornalistas, profissionais liberais e
demais. A conquista do padrão e liberdade econômica não veio acompanhada da
realização afetiva e sexual. Já os homens continuam cada vez mais canalhas, até
porque a cafajestagem é o protótipo de representação do que é ser brasileiro.
Inteligentemente Baskerville optou para que os dois atores (Claudinei Brandão e
Fernando Fecchio) se multipliquem em diversos papéis masculinos como forma de
caracterizar a ideia de que todos se parecem, não importando a função que
exerçam. As atrizes, Aldine Muller e Luciana Azevedo são absolutamente geniais
como parceiras de “Lovemar”, desde a infância até a vivência nos tempos atuais.
Apesar de ter sido escrita em meados de 80 a peça nos parece, hoje, revelar que
o futuro está no sonho perdido por alguma razão revelada sem retoques; como
agora exatamente quando nos perdemos. É o recomeço ou no fim do teatro,
enquanto a atividade é a essência para a Sociedade brasileira
Contemporânea.
Entendo que cada
profissional de teatro, comunicação e/ou da cultura tem o dever de abraçar esta
causa – o espetáculo em questão não pode “morrer na praia”, com o risco de nos
afogarmos abraçados e mal-humorados. Suburbano Coração traz a síntese do teatro
alegria que, afinal, está faltando no nosso dia a dia.
Como e onde ver
Suburbano Coração?
(*) A cena nacional
(na real ou no palco) está dividida entre o teatro de Pirandello (é o que a
imprensa quer que acreditemos) e a vida real/crua das ruas, dos bares, das
casas, das vielas e dos cafofos, assim como poder ser vista no teatro de Nelson
Rodrigues e Plinio Marcos.
(**)Dramaturgo
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