O poeta e o tempo
* Por
Félix Pacheco
São sempre iguais na idade os deuses e as quimeras.
O poeta é um deus também. Pertence-lhe o infinito.
Perdido na amplidão sempiterna do mito,
Fica de todo alheio ao desfilar das eras.
Sucumbam gerações no círculo restrito
E passem, no vaivém sem fim, as primaveras.
O poeta há de viver, para além das esferas,
Esquecido e imortal, todo entregue ao seu rito.
Eclípticas de sóis, movimentos dos astros,
Outonos e verões correndo atrás de invernos,
Tudo isso diz que o mundo anda também de rastros.
A própria formosura é vã nesses infernos:
O sepulcro dispersa em pó os alabastros.
Unicamente Deus e o Poeta são eternos.
(Mors-Amor, 1905)
*
Jornalista, político, poeta e tradutor, membro da Academia Brasileira de
Letras.
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