De criança
* Por
Núbia Araujo Nonato do Amaral
Passei por uma esquina
onde haviam arriado um farto despacho, mas o que me encantou foi o tamanho e
qualidade do alguidar, aquilo pintado ficaria lindo! Mas, sempre tem um mas, sou
uma covarde escaldada e deixei o trem pra quem era de direito.
Engraçado, dizem que
Deus protege os bêbados e as crianças, na minha meninice não havia esse respeito
(era medo mesmo) pelas entidades, a gente ficava na tocaia esperando pra
atacar, às vezes do nada, as moitas saiam cuspindo a molecada, nessas horas as
batalhas eram ferozes, principalmente se tivesse cocada, era unhada, rabo de
arraia, cuspe no olho.
Pra lerda aqui só
sobravam as balas, mas minha irmã, senhora absoluta, guerreira nata, me cedia
um pedacinho de cocada, nem eu a encarava. Chato era quando a gente perdia um
tempão e o despacho era pra outra entidade e se não tivesse doce a farofa
voava. Será que era por isso que eu tinha tanta pereba?
Salve Oni Beijada!
Salve a molecada!
Salve a pureza!
Salve a inocência!
Que Papai do céu não
nos perca de vista!
* Poetisa, contista, cronista e colunista do
Literário
Vi poucos despachos quando menina, e a minha mãe nos assombrava. Eu, por respeito, jamais tocaria numa oferenda. Mas hoje, pensando bem...
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