terça-feira, 6 de outubro de 2015

Confissão para enganar a dor


* Por Evelyne Furtado



Ouso parar.
Para não sofrer.
Para não chorar.
Ouso não sentir, embora a dor exista.
Mesmo depois de ingerir mil analgésicos com coca zero.
E daí, se ela não passa?

Sou tão forte que me assusto, por isso choro.
A fragilidade é uma arma.
Uso-a para abater aqueles que me ameaçam.
Foi o i-ching que me ensinou.

Se sou forte, porque dói?
Uma resposta que não tenho.
Não sou sábia, apesar de forte.
Será essa a tal resposta?

Fujo da vida entediante e real
Vivendo dores e amores inventados.
Até que me façam muito mal.

Por isso a pausa:

Para respirar e (re)aprender a amar.
Escapei da cruel vida real.
Pranteando um sonho encantado.
Encantei-me com a vida, entre uma crise e outra.
E o fiz muito bem.

Não sou prática, mas há coisas nas quais sou boa.
E o melhor é que tais coisas fazem-me muito bem.

Não fiz versos, nem mesmo prosa
Meu discurso não tem forma.
Mas enquanto escrevo não lembro
Da cefaléia que me paralisa
Em desagradáveis calafrios.

Por isso a pausa.
Vou dormir.
Quem sabe passa?


* Poetisa e cronista de Natal/RN

Um comentário:

  1. "Inútil dormir que a dor não passa" (Chico Buarque, contradizendo o dito popular). Que a sua dor tenha passado, a de cabeça, sim, esta é mais fácil de ir-se embora. A da alma demora anos. Isso quando chega a se acabar.

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