Retirante
* Por Alberto Cohen
Senhora dona da casa
dê-me água, por favor,
que venho de muito longe,
e o longe é deveras longe,
o caminho mais comprido,
a sede muito mais sede,
quando se foge do nada
indo pra lugar nenhum.
Senhora dona da casa
diga uma palavra boa,
que só escuto, faz tempo,
o barulho do silêncio
desaprendendo meu nome
e o gemido das saudades
de gente que nem conheço,
de coisas que nem me lembro.
Senhora dona da casa
faça uma reza, promessa,
para que eu perca a esperança
que teima em me acompanhar,
embaralhando-me os passos,
rindo de mim, à socapa,
quando nos meus olhos brilha
um brilho de não chorar.
Senhora dona da casa
fique um pouco na janela,
dê-me um aceno de mão
enquanto volto à estrada,
deixando algumas pegadas
que provem que estive aqui,
levando um fazer de conta
que alguém espera por mim.
• Poeta e escritor paraense
segunda-feira, 9 de julho de 2012
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