quinta-feira, 26 de julho de 2012

Algumas rixas são eternas


* Por Fernando Yanmar Narciso


Vamos poupar algumas vítimas essa semana, para variar um pouco.

Quão boa uma série de TV poderia ser para atravessar uma década no ar? Os Simpsons, o programa mais longevo da história, ultrapassou a marca dos 500 capítulos e está em sua 25ª temporada, mas todos concordam que já devia ter chegado ao fim há uns 12 anos no mínimo. Hoje, mesmo as séries mais aclamadas como Dexter têm o prazo de validade de no máximo 7 ou 8 temporadas, para não correrem o risco de cair no nonsense e na fase da barriga, que tanto atenta os novelistas brasileiros.

Entretanto, em 1978, o paradigma de séries curtas foi afogado por vários barris de petróleo na megalomaníaca novela Dallas. Seu formato foi revolucionário, trazendo as novelas, que geralmente passam de manhã e à tarde nos Estados Unidos, para o horário nobre pela primeira vez. Ao contrário das produções brasileiras, que começam e terminam no mesmo ano, os dramalhões deles têm temporadas de três ou quatro meses e se arrastam por anos a fio, a um capítulo por semana.

Provando que os ricos também sofrem, a trama criada por David Jacobs é centrada no decadente clã dos Ewings, a família mais rica do Texas. No centro do ringue, há um rancho, pertencente à matriarca Ellie, onde há uma fonte de petróleo imensa, maior até que o pré- sal. De um lado, temos o heróico Bobby Ewing, empresário bondoso que defende o rancho a unhas e dentes. Do outro, seu irmão mais velho J.R, despudorado e ganancioso, cujo único objetivo de vida é derrubar o rancho depois que sua mãe morrer e construir uma torre de extração no lugar. Assim começa o clássico embate Coiote X Papa-léguas, com um irmão fazendo maquinações mirabolantes para conseguir o que quer e o outro frustrando seus planos. E só. Acreditem, uma trama tão simplista foi capaz de prender a audiência na frente da TV como poucas, tendo sido o programa nº 1 dos Estados Unidos por sete anos e é até hoje o maior ganhador de Emmys da história.

Um ponto que chama a atenção nas novelas americanas é a quantidade de personagens, que raramente chega a duas dezenas, descontando participações especiais e substituições de atores que morrem. Agora, pensem em quão atraente um personagem de novela precisa ser para cativar o telespectador por mais de 10 anos. Poderiam imaginar uma série da Globo estrelada por, digamos, Odete Roitman? Pois foi exatamente isso que aconteceu com o sem-vergonha J.R Ewing, interpretado por Larry Hagman, mais canastrão que vinte Stallones e, mesmo assim, hipnótico. Ele praticamente carregou a série nas costas de 1978 a 1991, num total de 356 capítulos- Quase um ano completo de intrigas.

Nesse tempo, aconteceu de tudo com os Ewings, de uma temporada que foi apenas um sonho de um dos personagens ao clássico final de temporada “Quem atirou em J.R?”, mistério que manteve 41 milhões de telespectadores grudados na CBS em 1980. Pensavam que essa bobagem de “quem matou quem? ”era exclusividade de nossos autores?

Aqui estamos nós, em 2012, diante de uma grave crise econômica, e o ouro negro continua sendo o cimento que ao mesmo tempo une e desune os Ewings. Começou no mês passado uma continuação de Dallas, escrita, diga-se de passagem, sem autorização de Jacobs, apesar de seu nome ainda aparecer nos créditos. Aprendemos que, em 20 anos, pouca coisa mudou: Aposentado de suas tramóias e vivendo num asilo, J.R e suas sobrancelhas satânicas são tirados de seu estado catatônico ao saber de seu filho John Ross, tão calhorda quanto o pai, que o irmão Bobby pretende vender o rancho para se aposentar do ramo petrolífero e usar o dinheiro para financiar o rocambolesco projeto energético de seu filho adotivo Chris. Assim a guerra por território entre irmãos e parentes é retomada, com o bandidão ensinando suas “virtudes” de homem de negócios ao filho. E, como não poderia deixar de ser, John e Cris ainda disputam o amor de uma mesma mulher, Elena.

Como mostram tanto a série original como a nova, o maniqueísmo é sempre uma boa moeda de troca. E pensar que aqui temos de aturar a “ambigüidade moral” de Carminha e Nina...

Mas, por incrível que pareça, Dallas voltou com tudo! Não perco um só capítulo desde a estréia, e há quem diga que a qualidade dos roteiros, pelo menos na 1ª temporada, supera a novela original em tudo, apesar de a autora-chefe da nova trama, Cynthia Cidre, ter dito que trará de volta a clássica pergunta “Quem atirou em J.R?”, que para variar, também deverá ser um assassino muito ruim de mira. Incrível, não acham? Pessoas do Texas, lar dos cowboys, que não sabem atirar!

*Designer e escritor. Site: HTTP://terradeexcluidos.blogspot.com.br

Um comentário:

  1. Fernando,O final me surpreendeu. Acredita que dei uma risada?
    Gostei, embora saiba que jamais verei um capítulo de Dallas.
    Beijos, Mamãe.

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