quinta-feira, 26 de julho de 2012

De um bloco de anotações

As biografias podem ser interessantes (embora nem todas), mas não se pode afirmar que sejam o relato fiel e sem falhas da vida dos respectivos biografados. Não de toda ela pelo menos. Não estou afirmando que isso se deva ao fato delas serem relatadas com base em dados falsos, fictícios, inventados (embora isso possa acontecer e em alguns casos, aconteça).. Não é isso. Apenas afirmo, até baseado na lógica, que é impossível descrever uma vida toda de alguém, seja de quem for, em um livro, por maior número de páginas que ele tenha, ou mesmo em uma coleção com dezenas de volumes. Muita coisa certamente ficará (e dica) de fora.

Não fosse assim, não existiriam várias biografias de uma mesma personalidade, escritas por autores diferentes. Há aquelas que têm cinco, dez ou até mais livros, de biógrafos diversos, todos rigorosamente pesquisados e calcados em documentos e testemunhos dos que conviveram com o biografado. E, mesmo assim, talvez se registrem apenas 30%, se tanto, da vida desse personagem. O que há são versões, são interpretações de determinados fatos que levam o pomposo nome de “biografia”. Alguns detalhes, via de regra, são consensuais e constam dos textos dos vários autores, sejam eles quantos forem – respeitado, claro, o estilo de cada um – como data e local de nascimento, filiação, os principais feitos que tornaram o biografado famoso e vai por aí afora. Não raro, contudo, nem nesse ponto, às vezes, há concordância.

Apesar das restrições que citei, gosto de ler biografias. Aprendo muito com elas, com os erros8 e acertos dos vencedores. Sim, porque ninguém se dispõe a biografar fracassados, embora haja muito mais lições a extrair dos fracassos (alheios e nossos) do que do sucesso. Tenho o hábito e o gosto de escrever sobre personalidades – em geral escritores, mas não só –, embora jamais tenha escrito (e nem planeje escrever) nenhuma biografia ou algo que lembre,, sequer remotamente, esse gênero.

Concentro-me em determinados episódios de suas vidas e teço considerações em torno deles, em crônicas e até em ensaios. A alguns, esses textos parecem biografias resumidas. Não são. Todavia tenho o máximo cuidado de fugir de referências escandalosas, mesmo que verdadeiras, que sejam minimamente desairosas às figuras sobre as quais escrevo. Não trago nenhum peso na consciência nesse sentido,pela certeza de jamais haver usado esse poderoso (e perigoso) expediente, esse tremendo recurso comunicativo, que é a palavra, para caluniar, denegrir, depreciar ou mesmo insinuar coisas negativas sobre esses personagens, quer vivos e quer, principalmente, dos que já morreram e não podem se defender. Estou consciente da responsabilidade, não somente legal, mas, sobretudo, moral, que este exercício, inerente à minha profissão, impõe.

Para aproximar-me o mais possível da verdade, leio, cuidadosamente, mais de uma biografia (se houver) da pessoa sobre a qual me disponho a escrever e, principalmente, a autobiografia do personagem, se este a houver escrito. Anoto, cuidadosamente, em um bloco de anotações, especifico para esse fim, os detalhes que mais me chamam a atenção e deixo esses dados “fermentando” no “biodigestor” de idéias, que é o cérebro, até surgir a oportunidade de lhes dar forma e vida, através do texto.

Estas considerações, um tanto extensas (bem de acordo com o meu jeito de ser), vêm a propósito de uma decisão que acabo de tomar. É a de partilhar com vocês algumas dessas anotações sobre artistas consagrados, vencedores em suas respectivas artes, cujas vidas tenham episódios exemplares, que considero úteis (pelo menos para mim). Estão, neste caso, personalidades como Edgar Alan Poe, Victor Hugo, Haydn, Rembrandt e um punhado de tantas outras, sobre as quais discorrerei nos próximos dias, talvez em sequência – se não surgirem assuntos mais urgentes e/ou pertinentes – ou talvez de forma alternada e espaçada. Só espero que você, amável, fiel e paciente leitor, se divirta com minhas considerações, como eu me diverti ao redigi-las. Aguardem.

Boa leitura.

O Editor.

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Um comentário:

  1. Risos. O bom-humor, a alegria e os planos voltaram. Eu adoro as biografias, mas gosto de ler também o lado da "ambiguidade moral" como escreveu meu filho Fernando sobre as personagens de Avenida Brasil. As pessoas costumam ser assim.

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