sábado, 28 de julho de 2012

Limites do homem

O permanente desafio da habilidade física do homem, que começou a se configurar, em 776 AC em Olímpia, lugarejo da Grécia considerado um bosque sagrado, na margem direita do Rio Alfeu, na antiga Élida, tem, desde ontem, seu momento de consagração. Trata-se da abertura oficial, com toda a pompa e circunstância que o evento merece, dos 30ºs. Jogos Olímpicos da Era Moderna, que começam a ser disputados em Londres, na Inglaterra, pátria de grandes artistas, cientistas e escritores, como William Shakespeare, John Milton, Charles Dickens, Charles Darwin, Isaac Newton, e milhares e milhares de tantos outros. E também, por que não, a terra dos Beatles.

Milhares de pessoas de todo o Planeta estão congregadas nessa moderna (e tradicional) cidade da Europa, a única a promover o evento em três oportunidades – e mais de quatro bilhões de outras vão se fazer presentes pelas imagens da televisão – para uma "guerra" diferente, sem mortos, feridos e sem destruição, através da mística do esporte. Começam hoje as competições, o festival de graça, beleza, saúde, força e competência, que se repete a cada quatro anos (à exceção do período das duas guerras mundiais), há já mais de um século, representado pelo triplo desafio à habilidade do único animal racional da natureza: "mais alto, mais forte e mais rápido".

É a quarta Olimpíada de um milênio caracterizado por crises, incertezas, temores, mas também pela esperança de um mundo melhor e de resolução de problemas e contradições que em muitos momentos ameaçaram o Planeta, e por conseqüência a vida (toda ela, humana ou não), de extinção. O evento revive, embora com características próprias, o congraçamento que ocorria aos pés do Monte Olimpo, na Grécia Antiga, há mais de 1.600 anos.

As modalidades esportivas em disputa, é verdade, são outras, bem diversas das Olimpíadas originais. A motivação também é bastante diferente, assim como a abrangência da competição. Trata-se de uma outra realidade, em novos tempos, com objetivos e motivações característicos da nossa era. O que não mudou, no entanto, foi o ideal: competir com lealdade, honra e respeito ao adversário, sem jamais considerá-lo inimigo.

Se fosse possível reunir em um único homem (ou numa única mulher) as melhores habilidades dos atletas ganhadores das medalhas de ouro em cada modalidade dos dias de hoje – alguém que corresse 100 metros em menos de 9 segundos, nadasse a mesma distância em menos de 45, saltasse com vara mais de 6,10 metros, sem ela quase 3 metros, ou em três saltos ultrapassasse os 20 metros, ou em um só arranque levantasse mais de 500 quilos – esse seria um ser humano fisicamente perfeito.

Recordes que pareciam impossíveis de serem quebrados, foram há muito superados. Outras dezenas deles, certamente, vão cair nos próximos dias em Londres. É o homem sempre em busca dos seus limites. São a garra, a lealdade, a disciplina, o "fairplay", a graça, a beleza, a força e a competência em exibição. De três décadas para cá, os Jogos mudaram, assim como o mundo. Embora muitos países ainda façam da competição (ou tentem fazer) veículo de propaganda de ideologias e sistemas políticos, o que conta, de fato, é o talento dos atletas. São o seu coração, a sua garra, o seu treinamento, o seu autodomínio e a sua capacidade de superação dos próprios limites. E os interesses em jogo mudaram.

As Olimpíadas perderam sua característica original, de mera competição esportiva. Tornaram-se, sobretudo, grande negócio, com as "bênçãos" dos novos e sofisticados meios de comunicação, como a televisão comercial, a TV a cabo e a Internet. E nem são mais os países que agora são defendidos pelos atletas. São as grandes corporações e os fabricantes de materiais esportivos (Nike, Olympikus, Diadora, Addidas etc.) que os patrocinam.

Com a profissionalização, verificada de 1980 para cá, através de patrocínios oficiais ou privados, os participantes desse desafio esportivo quadrienal aproximam-se da perfeição, nas respectivas modalidades. Dedicam-se exclusivamente ao esporte e com isso aniquilam recordes e mais recordes, aparentemente impossíveis de quebrar, mas que continuam caindo.

Os Jogos da era moderna, principalmente desde Moscou, são caracterizados por espetáculos notáveis de música e coreografia, na abertura e no encerramento das competições. E ontem, em Londres, não foi diferente, como espero que daqui a quatro anos, em 2016, o show seja aina mais deslumbrante e surpreendente. É possível que as Olimpíadas do futuro – quem sabe nas de 2096 – abram espaço para os "atletas do intelecto e da sensibilidade". Se isso acontecer, a juventude sadia e bonita do Planeta irá compor, de forma coletiva, o perfil do homem ideal: mente sã, num corpo absolutamente sadio.

Há distorções e burlas, evidentemente. São muitos, por exemplo, os que se valem de expedientes ilícitos, como o doping, sem medir conseqüências, no afã de vencer a qualquer custo. Quem sabe um dia seja instituída a Olimpíada da Solidariedade, reunindo não apenas um grupo de indivíduos fisicamente excepcionais, mas toda a humanidade, em que a força e a destreza sejam substituídas ou complementadas (o que será ideal) por virtudes infinitamente mais nobres e raras: bondade e fraternidade. Só então poderemos afirmar, com segurança, que esse animal fascinante e contraditório afinal aprendeu a domar seus instintos de fera e é, de fato, racional, civilizado, "Homo Sapiens".Quem sabe isso comece a se configurar já em 2016 na sempre maravilhosa Cidade Maravilhosa do Rio de Janeiro. Até então...

Boa leitura.

O Editor.

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Um comentário:

  1. Fisicamente esse atletas ideal (bom em tudo)seria um monstro inviável. Quanto as qualidades morais de bondade e fraternidade, deve haver hoje entre os atletas quem os tenha, porém numa prova de tirar sangue, ainda que metaforicamente, tais qualidades são impossíveis de ser vistas,especialmente durante a contenda.

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