quarta-feira, 23 de maio de 2018

Editorial - De olho no sucesso


De olho no sucesso


O sucesso, embora se trate de conceito um tanto ambíguo, até mesmo vago (no mínimo inespecífico), porquanto tem significados muito diferentes de uma pessoa para outra, será sempre bem-vindo, seja o que for que signifique. Afinal, óbvio, mesmo o sujeito mais burro, ou convicto masoquista, nunca inicia qualquer empreendimento – quer profissional, quer pessoal – objetivando o fracasso. Pode até ter em mente essa possibilidade. Contudo, pelo menos de forma consciente, não o busca. Pelo contrário, foge dessa possibilidade.

A obtenção do sucesso é, aos olhos da sociedade, sinal de que fomos competentes, previdentes e aplicados no que fizemos. O oposto... Bem, significa exatamente o contrário. Reflete, no mínimo, que cometemos alguma ou inúmeras falhas, ou que não estávamos preparados para sermos bem-sucedidos ou, até, que não tivemos sorte e o acaso atuou contra nós e arruinou todos nossos projetos.

Quando fracassamos, é porque houve algum motivo, ou endógeno (nosso, no nosso interior) ou exógeno (por interferência de fora, alheia). Temos que ter em mente, porém, que o sucesso, seja no que for, não é duradouro (nada é). Acho interessante o que escreveu a respeito o romancista italiano Alberto Moravia: “O sucesso é como um jantar pesado – cumpre comê-lo todo, digeri-lo, eliminá-lo. E depois se preparar para outro jantar”. Ou seja, depois de gozarmos a justa euforia do êxito, devemos colocar à nossa frente novos objetivos a conquistar e agir com a mesma competência, previdência e aplicação nesse novo empreendimento. E isso a vida inteira. E contarmos, claro, com o mesmo acaso favorável, com a mesma sorte que nos permitiu alcançar os objetivos que buscávamos e alcançamos.

O tema é bastante rico e pode ser analisado por inúmeros e variados aspectos. Deixo essa análise, todavia, para os escritores de livros de autoajuda que concentram, por razões óbvias, toda sua atenção no assunto. O conceito de sucesso, porém, reitero, é subjetivo. Pode ter (e tem) conotação específica para cada um de nós. Tudo depende da nossa personalidade, da visão de vida e das expectativas que temos.

O dinheiro, por exemplo, é um parâmetro para a maioria. É errado? Depende! A pessoa simples, que passa por privações e que sequer é levada em conta, como se fosse mera sombra ou até menos, por não possuir bens, tem como meta, evidentemente, o ter, não o ser. Não entro aqui no mérito se essa ambição é válida ou não, se traz ou não felicidade. Mas, para um monge tibetano, por exemplo, ou para um ermitão do Oriente Médio, ou para qualquer outro indivíduo que se despoje de aspirações materiais, a acumulação de objetos, seja qual for seu valor intrínseco, ou sua natureza, ou sua escassez, pouco ou nada significa. Para tais pessoas, juntar coisas não representa ser bem-sucedido. Provavelmente, significa o contrário. Para elas, o que conta é o autoconhecimento, a iluminação espiritual, a contemplação da natureza etc.

Ademais, o sucesso não acontece por acaso, ou não só por causa dele, embora dependa em grande medida também desse fator. Na maioria das vezes, é fruto de planejamento, esforço, preparo e, sobretudo, vontade. As pessoas, para serem bem-sucedidas, precisam querer isso, mas querer de forma prática, construtiva, consciente e subconscientemente, agindo para consegui-lo, além de acreditar nessa possibilidade. Inúmeros pensadores já disseram, das formas mais variadas, tudo isso, como “a fé remove montanhas”, “querer é poder” etc., que embora sejam verdades comprovadas, não são levadas em conta, por já terem se transformado em clichês.

Fala-se amiúde do fator “sorte” como determinante do fracasso ou do sucesso. Não nego (e nem poderia) sua influência. Mas é necessário definir com clareza e sem ambiguidade como entendemos esse conceito. Da minha parte, entendo que sorte não é nada mais do que a pessoa se encontrar no lugar certo, na hora adequada, para aproveitar determinadas oportunidades. Para que isso ocorra, ela precisa estar predisposta, preparada, apta a não deixar fugir a tal chance, que pode ser a única (ou não).

Queremos sempre, óbvio, ser bem-sucedidos. Mas para alcançarmos o sucesso, é indispensável que tenhamos “objetivos”. Ter sucesso no quê? Os objetivos tanto podem ser a conquista de um amor, quanto o cultivo de uma profunda amizade. Tanto a ascensão profissional ou social, quanto a glória, o poder, a fortuna e assim por diante. Mas não basta impor metas, se não estivermos (e olha eu aqui fazendo mais uma reiteração) preparados para chegar onde queremos.

O sucesso requer disciplina, preparo e, sobretudo, persistência. Esses pré-requisitos são válidos para toda e qualquer empreitada. Antes de estabelecermos alguma meta, porém, é necessário que nos avaliemos com rigor, sem nos subestimarmos e nem superestimarmos, conhecendo bem até onde podemos evoluir (sempre podemos melhorar em alguma coisa). O caminho para a conquista desse “santo graal” é estreito e acidentado e poucas, pouquíssimas pessoas conseguem atingir os objetivos que traçaram para suas vidas. As que conseguem a façanha de chegar “ao cume da montanha”, todavia, não raro se decepcionam com o fato da realidade ser muito aquém das suas delirantes fantasias.

E qual é a meta suprema da maioria dos mortais? Podemos constatar, com facilidade, que desde o mais abastado dos indivíduos, proprietário de bilhões de dólares e de riquezas sem fim, ao indigente que, oprimido pela fome e pela desnutrição, delira e elabora fantasias mirabolantes em torno de um imaginário prêmio de loteria, todos querem a mesma coisa: ter, ter e ter.

O escritor William Faulkner, notoriamente homem bem-sucedido no que se propôs a fazer (foi um dos maiores clássicos da literatura norte-americana e mundial), tinha uma tese peculiar acerca do sucesso. Afirmava que se tratava de um "matador" da criatividade, dessa ânsia de perfeição que todas as pessoas devem ter, seja qual for sua atividade, até o último instante da vida.

O italiano Alberto Morávia expressou, como citei antes, a mesma ideia. Estariam ambos com a razão? Os fracassados seriam os verdadeiros gênios das artes e das ciências? Seriam os chamados donos da verdade? Enxergariam o que eventualmente ninguém mais vê? Claro que não! E nem os dois escritores fizeram qualquer apologia do fracasso. Ambos quiseram, apenas, alertar para a tendência que todos temos à acomodação, a "dormir sobre os louros" conquistados. Afinal o satisfeito ele mesmo, que acha que não tem mais nada a melhorar, é, sem tirar e nem pôr, um derrotado, o paradigma do fracassado.


Boa leitura!

O Editor.

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Um comentário:

  1. Gostei da "fantasias delirantes". Acho que nunca cheguei nem perto de almejar o sucesso. Deve ser por isso que fracassei. Aos 62 anos e aposentada, estou em insegurança financeira. Isso se chama fracasso.

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