sábado, 26 de maio de 2018

Círculo vicioso - Flora Figueiredo


Círculo vicioso

* Por Flora Figueiredo

Pedi ao tempo
que parasse um momento
de frente para o mar. 
Que tirasse o tênis,
a camiseta suada,
que respirasse fundo
apenas o segundo suficiente
pra se poder sonhar.
Mas o tempo é inclemente.
Insiste em correr
arrastando a hora,
que leva na coleira
como bichinho de estimação.
Parece brincadeira!
Há tantos estamos assim,
que já não sei agora
se sou eu que corro atrás do tempo,
ou se é o tempo que corre atrás de mim.

Em "O trem que traz a noite". Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

Poetisa, cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça - às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida. 

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