A
tecnologia nos socorre. Isso pode mostrar, mas aquilo não pode.
* Por
Mara Narciso
Muitos debocham dos
remédios criticando sua abrangência. Há medicamentos para domar crianças, a tão
útil e mal falada Ritalina (Metilfenidato), outros para trazer felicidade,
sendo a referência o Prozac (Fluoxetina e sua mania de acabar com a libido),
para dormir, o Rivotril (Clonazepan com sua dispersão da memória, vício e
imoderação), e outras tantas indispensáveis muletas.
Há auxiliares físicos
bem aceitos como os óculos. Os aparelhos auditivos enfrentam maior dificuldade
de aceitação e perdem feio para a bengala. Tratamentos cirúrgicos de saúde são
vistos como uma necessidade, já os estéticos não corretivos são feitos às
escondidas, e a pessoa omite que tenha se submetido a uma cirurgia de
rejuvenescimento da face, por exemplo. O Botox (Toxina Botulínica) e
preenchimentos são criticados. Pintar os cabelos era obrigação feminina a ponto
de uma criança perguntar: “por que só os homens ficam com os cabelos brancos?”
Qual o motivo de ser vergonhoso envelhecer, como também mostrar o que se faz
para retardar as marcas do tempo? Que se possa ser livre para optar por uma
coisa ou outra, sem opressão.
Quem se sente fora do
padrão familiar para altura procura usar sapatos de salto alto. Ou os usa para
ganhar poder. À mulher, isso é permitido, já aos homens, hoje menores do que
suas namoradas em vista dos saltos de mais de 10 cm que a maioria delas usa,
haverá desconfiança, caso ostentem salto ou palmilha dentro do sapato. Algumas
ajudas são publicáveis e outras não. Por qual motivo? Por outro lado, que mal
há em ser menor do que a parceira?
Enquanto ser magro
virou uma obsessão, a vida confortável de hoje tornou-se imposição a favor da obesidade.
Perder peso é desafio permanente e mantê-lo é outro ainda maior. Pode-se
escolher entre emagrecer ou continuar engordando, mas a maioria quer perder
peso. Ainda assim, os que buscam ajuda, rezam a ladainha de que não é por
estética, e sim por saúde.
Ser forte, ter braços
musculosos é uma exigência para os rapazes. Só não se podem esquecer das
pernas, que andam desproporcionais aos braços. Então, aos 14 anos, entram nas
academias e nos anabolizantes e seus comemorativos conhecidos e desprezados.
Usam doses seis vezes a convencional, pois, enquanto um homem que tenha perdido
os testículos necessita de duas a três injeções mensais do hormônio masculino,
aqui se tomam doze ou mais ampolas por mês. Dizem ter escolhido esse caminho, e
que a qualquer hora podem parar. Porém, quando o interrompem, sentem a força
desaparecer, a agressividade minguar, assim como seus músculos, então retornam
ao uso. As moças também estão fazendo isso com seus corpos, tomando uma
aparência masculinizada, inclusive com suspensão das menstruações e aumento do
clitóris. As mães desconhecem o fato.
As mulheres são mais
cobradas socialmente do que os homens. Precisam ser joviais, magras, com seios
grandes, firmes e assim a maioria que tem acesso já colocou silicone nos seios.
Outras implantaram silicone nos glúteos. Elas não. Seus médicos fizeram isso.
Acha que deve, tem vontade, então que faça. E nem vou falar em exagero. O que é
muito para um, poderá ser normal para outro. Nada de discurso moderador. O enchimento
em sutiã é bem aceito há décadas, já o enchimento em calcinha, para amplificar
os glúteos, é usado de forma camuflada. Deu para entender?
Caso a glicose esteja
alta, usa-se remédio para que desça. O mesmo se diz em relação ao colesterol,
triglicérides ou pressão. Os hormônios estão baixos, serão substituídos,
conforme o caso. As substâncias químicas estão disponíveis para muitos fins.
Falo apenas dos lícitos. Para os que não têm solução, espero a boa nova como
vacina contra AIDS, dengue, e outras mazelas.
Por seu turno, ainda
que haja problemas na aceitação de certos tratamentos extremos, radicais,
paliativos ou inúteis, há quem precise usar um remédio e não usa ou esconde que
usa. Que mal há em usar o Viagra (Sildenafila)? O desconhecimento pode ser
vencido pela informação médica, o medo não se justifica, e ter vergonha de se
tratar é algo inadmissível. Meu aval pouco vale, mas o certo é tratar-se.
*Médica endocrinologista, jornalista
profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e
Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a
Hiperatividade”
Para o bem ou para o mal, justificado ou não seu uso em termos éticos e estéticos, o fato é que somos cada vez menos humanos e cada vez mais próteses. Não arriscaria dizer qual será o fim disso, Mara. Oportuno e atual o seu texto.
ResponderExcluirNós somos uma farsa, Marcelo, exatos colocar a cada dia um anexo, sem nada tirar.
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