quarta-feira, 10 de junho de 2015

A tecnologia nos socorre. Isso pode mostrar, mas aquilo não pode.

* Por Mara Narciso

Muitos debocham dos remédios criticando sua abrangência. Há medicamentos para domar crianças, a tão útil e mal falada Ritalina (Metilfenidato), outros para trazer felicidade, sendo a referência o Prozac (Fluoxetina e sua mania de acabar com a libido), para dormir, o Rivotril (Clonazepan com sua dispersão da memória, vício e imoderação), e outras tantas indispensáveis muletas.

Há auxiliares físicos bem aceitos como os óculos. Os aparelhos auditivos enfrentam maior dificuldade de aceitação e perdem feio para a bengala. Tratamentos cirúrgicos de saúde são vistos como uma necessidade, já os estéticos não corretivos são feitos às escondidas, e a pessoa omite que tenha se submetido a uma cirurgia de rejuvenescimento da face, por exemplo. O Botox (Toxina Botulínica) e preenchimentos são criticados. Pintar os cabelos era obrigação feminina a ponto de uma criança perguntar: “por que só os homens ficam com os cabelos brancos?” Qual o motivo de ser vergonhoso envelhecer, como também mostrar o que se faz para retardar as marcas do tempo? Que se possa ser livre para optar por uma coisa ou outra, sem opressão.

Quem se sente fora do padrão familiar para altura procura usar sapatos de salto alto. Ou os usa para ganhar poder. À mulher, isso é permitido, já aos homens, hoje menores do que suas namoradas em vista dos saltos de mais de 10 cm que a maioria delas usa, haverá desconfiança, caso ostentem salto ou palmilha dentro do sapato. Algumas ajudas são publicáveis e outras não. Por qual motivo? Por outro lado, que mal há em ser menor do que a parceira?

Enquanto ser magro virou uma obsessão, a vida confortável de hoje tornou-se imposição a favor da obesidade. Perder peso é desafio permanente e mantê-lo é outro ainda maior. Pode-se escolher entre emagrecer ou continuar engordando, mas a maioria quer perder peso. Ainda assim, os que buscam ajuda, rezam a ladainha de que não é por estética, e sim por saúde.

Ser forte, ter braços musculosos é uma exigência para os rapazes. Só não se podem esquecer das pernas, que andam desproporcionais aos braços. Então, aos 14 anos, entram nas academias e nos anabolizantes e seus comemorativos conhecidos e desprezados. Usam doses seis vezes a convencional, pois, enquanto um homem que tenha perdido os testículos necessita de duas a três injeções mensais do hormônio masculino, aqui se tomam doze ou mais ampolas por mês. Dizem ter escolhido esse caminho, e que a qualquer hora podem parar. Porém, quando o interrompem, sentem a força desaparecer, a agressividade minguar, assim como seus músculos, então retornam ao uso. As moças também estão fazendo isso com seus corpos, tomando uma aparência masculinizada, inclusive com suspensão das menstruações e aumento do clitóris. As mães desconhecem o fato.

As mulheres são mais cobradas socialmente do que os homens. Precisam ser joviais, magras, com seios grandes, firmes e assim a maioria que tem acesso já colocou silicone nos seios. Outras implantaram silicone nos glúteos. Elas não. Seus médicos fizeram isso. Acha que deve, tem vontade, então que faça. E nem vou falar em exagero. O que é muito para um, poderá ser normal para outro. Nada de discurso moderador. O enchimento em sutiã é bem aceito há décadas, já o enchimento em calcinha, para amplificar os glúteos, é usado de forma camuflada. Deu para entender?

Caso a glicose esteja alta, usa-se remédio para que desça. O mesmo se diz em relação ao colesterol, triglicérides ou pressão. Os hormônios estão baixos, serão substituídos, conforme o caso. As substâncias químicas estão disponíveis para muitos fins. Falo apenas dos lícitos. Para os que não têm solução, espero a boa nova como vacina contra AIDS, dengue, e outras mazelas.

Por seu turno, ainda que haja problemas na aceitação de certos tratamentos extremos, radicais, paliativos ou inúteis, há quem precise usar um remédio e não usa ou esconde que usa. Que mal há em usar o Viagra (Sildenafila)? O desconhecimento pode ser vencido pela informação médica, o medo não se justifica, e ter vergonha de se tratar é algo inadmissível. Meu aval pouco vale, mas o certo é tratar-se.

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”   



2 comentários:

  1. Para o bem ou para o mal, justificado ou não seu uso em termos éticos e estéticos, o fato é que somos cada vez menos humanos e cada vez mais próteses. Não arriscaria dizer qual será o fim disso, Mara. Oportuno e atual o seu texto.

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    1. Nós somos uma farsa, Marcelo, exatos colocar a cada dia um anexo, sem nada tirar.

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