Aproxima
quem está longe e afasta quem está perto
* Por
Mara Narciso
Culpa antes creditada á
televisão, há tempos a internet é acusada de acabar com a conversa na sala ou à
mesa do jantar. Ou na rua e até no bar. Também a rede fez aumentar o número de
escritores e reduzir o de leitores. Apenas textos curtos são lidos. Passou de
um parágrafo, poucos se atrevem a ir até o fim. Cada época com seus costumes e
há 20 anos foi criada a primeira rede social, ClassMates nos Estados Unidos e
Canadá, para reunir colegas. Seguiram-se Friendster, MySpace (2003) e LinkedIn.
Depois vieram Orkut (extinto) e Facebook em 2004. O Youtube começou em 2005
para receber vídeos e o Twitter com mensagens de 140 caracteres em 2006. O
WhatsApp, propriedade do Facebook, foi criado em 2009. No Brasil, 83% dos
internautas estão no Facebook e 58% no WhatsApp (dados do governo em 2015).
Desde 1993 vejo
pessoas da minha família conectadas à internet, surfando e falando ser uma
maravilha esta ferramenta de comunicação instantânea. Entrei em 2000 e comecei
a fazer amigos virtuais no chat Terra em 2001. Estive em redes sociais das
quais perdi a senha e o nome, participei do Orkut e hoje estou no Twitter,
Google, Facebook e WhatsApp. Desde fevereiro de 2015 foi criado no WhatsApp o
grupo Família Narciso para aproximar pessoas da segunda à quarta geração,
filhos, netos e bisnetos de Petronilho Narciso. A lista telefônica da agenda
migra automaticamente quando se faz o download do programa, mas para entrar no
grupo é preciso solicitar ao moderador.
No momento, somos 42 e
a opinião geral é de que está sendo uma agradável experiência. De cinco da
manhã, - os madrugadores acordam o galo -, e até depois de meia noite os fãs do
corujão estão dando notícias. Não nos afastamos completamente, mas os netos e
bisnetos dos tios, já estavam meio distantes, e este grupo está propiciando
conhecer melhor os primos e recriar laços de afeto e amizade. No momento não há
quem more no exterior, pois quem lá esteve já voltou. As viagens para fora do
país são frequentes, dado o alto número de pessoas, gerações diferentes,
interesses múltiplos, o que torna a troca de informações dinâmica e útil.
No sentido norte sul
há quem more no Oiapoque (Amapá) e Açailândia (Maranhão) e quem more em
Florianópolis (Santa Catarina). No sentido leste oeste, há quem resida no
estado de São Paulo e em Minas Gerais. Boa parte está em Montes Claros, para
onde meu avô se mudou rapazinho. A comunicação a cada momento leva o grupo para
vários lugares através de textos, fotos, áudios e vídeos. Nos dias mais movimentados
em uma hora podem chegar dezenas de mensagens. É preciso tirar o som de aviso,
senão ninguém trabalha. Apenas a luzinha fica piscando.
Melhor enviar
mensagens curtas. Por escrito, é preciso ter cautela e não levar ao pé da
letra. É preferível não procurar nas entrelinhas. O texto digitado não tem
entonação, e pode causar mal-entendidos. O melhor é escrever com clareza, e não
retrucar. Tem dado certo. Esta regra vale não só para a família de sangue como
também para outros contatos. A educação e a compostura precisam valer, e o que
se faz online repercute na vida real. No caso do nosso grupo familiar tem sido
benéfico na alegria e na tristeza e quando o assunto pede sigilo, fala-se no
reservado.
Pode-se viajar
graciosamente e comer com os olhos nas fotos postadas. O curioso é que a vida
dos outros parece mais interessante do que a nossa, num dado momento. Esta
proximidade gera alegrias (até euforia com as conquistas alheias) e preocupação
com provas, testes, exames médicos, doenças e mortes. Em todas as situações é
melhor participar e repartir. A solidariedade conforta, acalenta e torna-se
colo. Isso nos tem propiciado maior proximidade, afeto e aconchego. E quando a
reunião é ao vivo, sente-se maior acolhida por se estar a par das informações
mais importantes. Alerto para que o uso seja racional (alguém sabe o que seja
isto?), para não cair no efeito colateral mais frequente da internet: afastar
quem a gente ama, por falta de tempo de se olhar nos olhos, afagar os cabelos,
abraçar. Tudo dividido é melhor. Especialmente pele com pele.
*Médica endocrinologista, jornalista
profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e
Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a
Hiperatividade”
O título encerra uma grande verdade, muito bem desenvolvida pelo seu texto, Mara. Que saibamos tirar do mundo virtual o melhor e mais responsável proveito. Abraços.
ResponderExcluirEstou procurando o equilíbrio, mas estou mais viciada do que gostaria. Abraço, Marcelo!
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