Retorno
Por Eduardo Oliveira Freire
...
A senhora acordou contente. Mandou as empregadas arrumarem a mesa com os
talheres de prata. A casa estava cheia de flores, sempre mandava trocá-las.
Gostava de tudo que era belo. Sentia orgulho dos filhos, todos formados e bem
de vida. “Todos não. O Valdo nem sei por onde anda. Sumiu no mundo, deve ter
morrido de tanto se drogar”.
Tentava esquecer. Quer pensar em coisas
sublimes. Quando saía para o jardim, gostava de ler sentada num banco ao lado
das flores. Percebeu que havia um homem com roupas surradas. Estava abatido e
muito magro. Olhava fixo para ela. Chamou a Maria: “Dá um prato de comida pro
pobre coitado, aí ele vai embora logo. Acho deprimente ver pessoas deste tipo”.
A empregada foi e voltou: “Senhora. Ele
é o Valdo, quer falar com você”. Teve a impressão que tudo à sua volta se
desmanchava, como cera quente. “Ele é o Valdo? Quando era menino era
branquinho, olhos claros e com cabelo cacheadinho. Agora, está tão velho”.
Foi ao encontro do filho. “Tudo bem com
a senhora?”. “Você está passando necessidade. Quer dinheiro?” “Não. É que hoje
é Dia das Mães e queria dar um uma lembrança”. Pegou um embrulho. A senhora
estava sem entender, começou a desembrulhar, era uma pequena estátua de
madeira. “Estou aprendendo artesanato, aprendi na clínica. Não uso mais drogas
uns dois anos. O seu Anderson me ajudou, me internando numa clínica. Lembra-se
dele? Era amigo do papai. Disse-me que o pai o ajudou muito na vida, por isso,
me deu muita força”.
A senhora emocionou-se. Por muitos
anos, Valdo não era tão carinhoso com ela. “Lindo, adorei. Vem almoçar
comigo!!! Todos os seus irmãos estarão aqui. Se quiser descansar um pouco, pode
dormir no seu antigo quarto. A Maria bota lençóis novos. Também, pode tomar um banho e escolher algumas roupas
do seu pai, que ainda estão em casa”. “Não, obrigado. Não quero causar
desconforto a ninguém. Com a morte do papai, os meus irmãos têm mágoa de mim.
Com razão, fui um estorvo tão grande que o coração dele não resistiu”. “É
passado. Fica...” “Mãe, vamos aos poucos. Há muita mágoa em ambas as partes...
nem é bom falar sobre...”. “Você quem sabe. Foi muito bom revê-lo”.
Despediram-se com um carinho franco. A
senhora ficou aliviada do filho ir embora. Realmente haveria um desconforto. Gostava
de que tudo ficasse em harmonia. De repente, sentiu uma repentina felicidade.
Seu “filho problemático” retornava para o lar. Amava-o...
*
Formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, está cursando
Pós-Graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e está aspirante a
escritor.
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