Nem Savoy nem Canto do Poeta no Recife
* Por
José Calvino de Andrade Lima
Há cinco anos, o Grupo
Universitário Maurício de Nassau anunciou a compra do Edifício Sigismundo
Cabral, endereço do antigo Bar Savoy, que era um símbolo glorioso, ligado à
história do Recife! Agora só restava o Canto do Poeta. Sábado à noite, resolvi
novamente reviver o Recife de outrora. Desta vez, fui ao Canto do Poeta, no
primeiro andar de onde existia o Bar Savoy, na Avenida Guararapes. Para a minha
surpresa, o Canto do Poeta também não existe mais. Pelo Savoy, passaram quase
todos intelectuais e figuras proeminentes da região, mesmo aqueles que não
bebiam bebidas alcoólicas, se embriagavam somente com as transcendentes
vibrações da poesia.
Conforme o excelente
livro chamado Bar Savoy, de autoria de Edilberto Coutinho, Carlos Pena Filho e
Mauro Mota o freqüentavam quase diariamente. O livro contêm muitas quadrinhas
de Mauro Mota, chistosas e engraçadas, endereçadas aos colegas, nem sempre de
natureza muito amena. Consta que, tendo Esmaragdo Marroquim presenteado uma
certa poetisa com um vidrinho de perfume, Mauro Mota saiu-se com essa:
“Esmaragdo Marroquim/ faz de otário o papel/não se dá perfume assim/dá-se
perfume em motel.”
Por lá andaram
Laurênio Lima, Odilon Ribeiro Coutinho, Altamiro Cunha, Murilo Costa Rego,
Ariano Suassuna, Marcus Accioly, Odorico Tavares, Marcos Vinicius Vilaça,
Otávio de Freitas, Audálio Alves, Olívio Montenegro, Marcos Freire,´Abdoral de
Souza Leite, Geraldo Tenório Aoun, Samuel Mac Dowell, Wilson Alvim, Maviael
Lima (irmão), José do Patrocínio, José Condé, Edmir Domingues, etc. O Savoy foi
fundado em 1944 pelo espanhol Alvarez, passando para os irmãos Simões e, por
fim, para o português Joaquim Esteves Pereira, que inaugurou o Canto do Poeta.
Esteves, a quem Gilberto Freyre chamava “o bom Esteves”, abandonou o Recife. Na
sua gestão, o Savoy transformou-se em uma verdadeira entidade cultural,
promovendo concursos, cursos, palestras e adquirindo um magnífico acervo de
excelentes obras de arte.
No livro de Edilberto
Coutinho constam os poemas que concorreram aos concursos, inclusive dois de
Mário Hélio, agora editor da revista Continente que, ao que consta, está
fazendo grande sucesso. No primeiro concurso de poesia Bar Savoy , Carlos Pena
Filho foi vencido por Marcus Accioly, com o poema Elegia a Carlos Pena Filho. O
júri foi composto por Lucila Nogueira e Cesar Leal. No segundo, o prêmio maior
coube a Mário Hélio, com o poema As Oito Fa(u)ces do Poema. No terceiro
concurso – Carlos Pena Filho foi vencido por Iran Gama, com o poema Savoyar,
uma beleza, digno de figurar nas mais seletas antologias.
Freqüentava o Savoy há
anos sem conta, agora ficou só na lembrança: painel 30 homens sentados, Bumba
Meu Boi, Cangaceiro, Rosa Amarela, Carlos Pena Filho, Capiba, etc. O painel é
de autoria de Lailson . Há, também, vários quadros de diversos autores no Canto
do Poeta: Flutuante, Ponte Giratória, Rua Sigismundo Gonçalves... Agora, o
português Esteves sem ajuda material da parte dos órgãos culturais, não sabe o
que fazer com o acervo. O painel azulejado de Corbiniano Lins danificou-se, uma
pena.
*
Escritor, poeta e teatrólogo. Vejam e sigam -
Fiteiro Cultural: Um blog cheio de observações e reminiscências –
http://josecalvino.blogspot.com/
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