Primavera
* Por
Solange Sólon Borges
Quem falou de primavera sem ter visto o
teu sorriso,
falou sem saber o que era...
Cecília Meireles
Ele faz perguntas intensas: você
me amará sempre? Será minha? A primavera é a clara estação das músicas
longínquas. As cigarras cantam arranjos rítmicos e nos achamos imortais nessa
hora multicor... Quando é primavera, chove demais em mim e floresço, pois há
jardins repletos de ternuras e juncais.
O que é o homem? O que é a mulher
se não um sol de delicadezas cujos dons e sorrisos são a fluência da
felicidade? Há sempre flores e estrelas a mais nas mãos do meu amado, pois sabe o quanto preciso sentir a vida pulsando
transparente. Os teares da primavera tecem perfumes com fios arcaicos...
Por isso, minha linguagem tem febres e flutuo em cítricos desejos.
Você me dá uma pequenina caixa de
presente que desembrulharei depois, pois quero sentir o tremor da espera e da
surpresa. Porque amor é hipnose. Sabe o quanto gosto dos objetos minúsculos que
encerram mundos: “as estrelas não temem parecer vaga-lumes”, alertava Tagore. E
passo então tardes inteiras desenhando brevidades e canteiros, pois plena de
amor a tudo vejo com clarividência, inclusive os vaga-lumes.
A vida é mágica entre heras
vigorosas. Tudo o que plantei brota nessa metáfora de mudança assombrosa: as
flores saltam para a luz tecendo delicados bordados adejados por asas
coloridas. Os girassóis se abrem por inteiro e
posso respirar cores vibrantes e o cheiro da terra que sobe ávido após a
chuva rápida que a tudo encharca. Meus desejos são caudalosos e nos
reconhecemos por aromas e olhares, fundamentos que entregamos um ao outro para
que não haja dúvidas e pontes. Os arredores ensolarados do seu corpo traçam
retas seguras dentro do círculo perfeito onde me abrigo. Quero adormecer após o
movimento cíclico das ondas do amor. E esse privilégio não é meu, é nosso.
Onde há o peso da vida — mar e
rochedo — meu amado me dá leveza como ossos de borboleta. Fincamos plenas
raízes.
* Jornalista, dedica-se a diversos gêneros literários. Entre outras
atividades, atua em alguns programas “O prefácio”, sobre livros e literatura.
Um deles é o programa Comunique-se, levado ao ar pela TV interativa ALL TV
(2003/2004). Apresentou, também, “Paisagem Feminina”, pela Rádio Gazeta AM
(1999), além de crônicas diárias na Rádio Bandeirantes e na Rádio Gazeta —
emissoras das quais foi redatora, repórter, locutora e editora.
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