A compra discreta
* Por Rodrigo Ramazzini
Era
a primeira vez que o Osvaldo acompanhava a Neuza no supermercado. Também
pudera, namoravam oficialmente há apenas uma semana. Foram apresentados por uma
amiga em comum, em um dentre os vários bailes para a “terceira idade”
existentes. Dançaram algumas músicas, conversaram, e uma rara afinidade
apareceu. Então, resolveram, com um “empurrãozinho” da Neuza, tentar o
relacionamento.
Osvaldo
chegou à casa da Neuza com o seu Uno no horário combinado. Neuza entrou no
carro, e ainda tímido, como era de sua personalidade, Osvaldo deu um beijo
“selinho” nela e rumaram para o supermercado.
Osvaldo
dirigia o carrinho do supermercado, feliz da vida, apesar de pouco demonstrar,
pois ser inibido era uma de suas características. Entretanto, embora essa
peculiaridade, durante as compras ele deu dicas de marcas, pesquisou preços,
uma dedicação até então nunca vista por Neuza, que fora casada por duas vezes,
e jamais vivenciara tal experiência com os anteriores.
Eis
que o casal finaliza as compras e dirige-se ao caixa de pagamento. O
supermercado está lotado e as filas nos caixas estão extensas. “Entram” em uma
das filas. Osvaldo, cuidadosamente, verifica se tudo que constava na lista de
compras da Neuza foi adquirido.
A
fila vagarosamente vai se dissipando. Osvaldo e Neuza, enquanto esperam,
conversam sobre preços e a qualidade dos produtos. Finalmente, aproximam-se do
caixa. Falta apenas um casal a ser atendido. Neuza, como a maioria das
mulheres, tomada pela curiosidade, especula as compras deste casal. Osvaldo
aproveita este único momento de distração, olha para os dois lados, averiguando
se alguém o observa, e então, discretamente, com a ponta dos dedos, pega um
pacote de camisinha na gôndola em frente ao caixa e rapidamente atira-o para
dentro do carrinho. Não que Osvaldo pretendesse usá-las, e sim, mais pelo seu
valor simbólico, pois ainda sentia-se envergonhado em falar sobre sexo com a
nova companheira.
Neuza,
sem aperceber-se do pacote, começa a tirar as primeiras compras do carrinho,
mas como no momento o caixa estava sem o empacotador, ela mesma toma a
iniciativa de realizar tal ação. Com isso, Osvaldo fica responsável por tirar
as compras e alcançá-las para a operadora de caixa. E por ironia do destino, ou
estratégia talvez, o pacote de camisinha é o último produto dentro do carrinho.
Ele, tomado pela vergonha, com a face vermelha, entrega o pacote de camisinha
para ser registrado o preço. A operadora de caixa observa o pacote e olha para
Osvaldo, como se dissesse:
- Tu
hein, tio?
E
abre um sorriso sarcástico. Osvaldo passa do tom vermelho para o bordô. A
operadora tenta registrar o preço da camisinha através do código de barras uma
vez e não consegue, uma segunda vez e também não, uma terceira e novamente não
obtém o resultado esperado. Então, ela, sentada em uma cadeira que estava,
vira-se para trás para chamar alguém. Osvaldo, em pânico, ainda tenta
interceptá-la para que o pior não aconteça:
-
Moça! Moça! Não! O valor é...
Mas
era tarde demais. A operadora já havia gritado para uma auxiliar que estava a
cerca de 10 metros:
-
Gerusa! Vê quanto custa esse pacote de camisinha pra mim!
*
Jornalista e cronista
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