Quando Eduardo eduardaliza
* Por
Eduardo Oliveira Freire
I
Eduardo voltou da Nova
York mítica direto para o ônibus barulhento e sujo. Quer tanto conhecer a
cidade em que tudo funciona e é um paraíso. Tanto que nem se importa de viajar
ilegalmente para lá, podendo ser deportado num piscar de olhos. Tadinho de
Eduardo...
II
Outro dia, no trabalho,
Eduardo imagina estar num café em Paris, lendo um livro hermético e profundo e
fazendo pose de escritor-pensador. Sempre quis viajar para a França, apesar de
não ter interesse em aprender francês e nem juntar dinheiro com a finalidade de
viajar. Na verdade, Eduardo prefere sonhar com a Paris mítica- glamorosa,
fantasiando que chegando lá, todos o acharão com muita potencialidade
artística, contratando até tradutores para decifrarem suas obras complexas.
Eduardo é assim, mas ainda bem que a realidade o chama, quando lhe pede para
desarquivar um documento. Eduardo é, ao mesmo tempo, água e terra.
III
Eduardo acredita que os
políticos precisam ser belos, para que o resto do mundo admire o país, como
sendo o lugar de pessoas bonitas. Inclusive, crê que as pessoas lindas são mais
bem resolvidas consigo mesmas, logo, serão mais éticas e menos corruptas.
Eduardo é admirador da beleza e nem percebe que ela pode ser um abismo.
Pobre Eduardo...
IV
Eduardo tem pensamentos
contraditórios, de repente imagina que é um voluntário que vai para a África
ajudar os necessitados. Agora, o elegante é ser politicamente correto e ser
despido de desejos consumidores. Viajar para Europa e os E.U.A já saíram de
moda. Entretanto, Eduardo fica na superfície do sonho. Não pensa que se sujará
ou correrá risco de vida, pelo contrário, em seus devaneios, sempre está
impecável. Realmente, Eduardo tem cabeça de rio caudaloso repleto de criaturas
quiméricas.
V
Ninguém aguenta a
loucura de Eduardo, muitos acham que ele dissimula para fugir da realidade e
todos ficarem com pena dele. Eduardo não entende a agressividade das pessoas,
tranca-se no armário, onde luta contra a rainha-mexilhão-devoradora. Sua espada
afiada é a única arma que consegue vencê-la e salvar o reino de cristal azul
intergaláctico. Eduardo tende a ser mais água do que terra.
VI
A família resolveu
internar Eduardo numa clínica. Eduardo achou o lugar lindo, principalmente o
jardim. Começou a imaginar que era um castelo só seu, os funcionários e os
pacientes eram todos empregados seus. Eduardo foi feliz para sempre...
* Formado em Ciências Sociais, especialização
em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/
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