sexta-feira, 13 de julho de 2012

A vida de um desconhecido cronista

* Por Rodrigo Ramazzini

Situação: um cocktail. Você, sozinho, tomando um cálice de vinho e devorando um rissole, parado perto de um dos cantos do salão. Um amigo lhe avista, aponta, cochicha ao ouvido da pessoa que lhe acompanha e dirige-se na sua direção:
- Grande Rodrigo Ramazzini! Como vai o amigo?
- Tudo tranqüilo! E contigo?
- Tudo ótimo cara! Anda sumido, hein?
- Pois é...
- Deixa-me te apresentar: esse é o Manoel Gutierrez, dono da madeireira Gutierrez.
- Prazer!
- Manoel, esse é Rodrigo Ramazzini, escritor, cronista...
- Prazer, seu Rodrigo!
- Bom Gutierrez! O Rodrigo é uma pessoa interessantíssima. Fique conversando com ele enquanto vou ao banheiro e encho o meu cálice de vinho...

O Gutierrez sinaliza um positivo com a cabeça e vira-se completamente para o meu lado e começa:
- Cronista, seu Rodrigo. Legal! Eu gosto de ler, mas sou como boa parte da população, tenho preguiça para efetuar a leitura...
- Leitura é um hábito realmente difícil de entrar no nosso cotidiano, mas quem já o incluiu com certeza não se arrepende...
- É verdade! Crônica eu gosto bastante... São curtas e não dão muito trabalho. É para o jornal local que escreves?
- É sim!
- Bom! Esses dias eu li uma crônica muito boa, por acaso não é tua? Falava de um apito de chamar mulher...
- Não, não! É do mestre Veríssimo essa...
- Grande Veríssimo! Realmente ele é ótimo. Lembrei-me de outra. Uma que falava de cantar no chuveiro, acho. Não foste tu que escreveste?
- Também não! Essa é do Moacyr Scliar...
- Ah, do Scliar, desculpa! Leio, mas esqueço quem fora o escritor...
- Esses “brancos” fazem parte...
- Acho que é o vinho... Ha! Ah! Ah! Deixe-me recordar o que li essa semana nos jornais locais... Lembrei-me de duas crônicas! Uma falava mal do prefeito e uma outra dos motivos para votarmos no Alckmin. Qual delas é a tua?
- Bom... Nenhuma delas!

Penso: ou o jornal não está vendendo nada, ou como em média as pessoas lêem em torno de 70% do todo de um jornal, devo estar incluído nos 30% restante para esse cara.
- Mas Rodrigo... Oi, tudo bem?

Então, neste momento da conversa, chega uma mulher e pára ao lado do senhor Gutierrez. Fico na dúvida se é sua mulher, filha ou apenas uma amiga. Ele então, apresenta-me:
- Rodrigo... Rama...
- Ramazzini.
- Filha! Esse é o Rodrigo Ramazzini, cronista...
- Prazer!
- Tatiana, prazer!

Era baixinha, com chapinha no cabelo loiro (com alguns fios castanhos). Estava de calça jeans apertada, uma blusa preta de lã que torneava e salientava os seus fartos seios. A botinha, também preta, dava-lhe um charme especial. O belo rosto bronzeado, juntamente com as escuras sobrancelhas, contrastava com o cabelo. Penso: meu Deus! Rica baixinha. Então, ela euforicamente fala-me:
- Cronista! Que legal! Eu adoro crônica, li uma esses dias, que falava da chapinha e do salto alto das mulheres. O máximo! Sempre leio esse escritor. Como é o nome dele meu Deus! Espera um pouco, por acaso não és tu?

Encho o peito, abro os braços e orgulhosamente replico:
-Enfim! Alguém me lê...

Ela pula no meu pescoço e histericamente grita:
- Eu sou tua fã! Adoro o que tu escreves...

Reflito: não sei quem foi o (a) filho (a) da mãe que escreveu essa tal crônica da chapinha, mas obrigado! Muito obrigado!

• Jornalista e contista gaúcho

2 comentários:

  1. Pelo menos ganhou um abraço da moça chapeada. Não confundir com chapada. Difícil achar assunto com gente tão diferente.

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  2. Estou rindo muito, Rodrigo. Me veio à memória, quando lancei o teatro Trem & Trens, o título seria O Trem, mas aconteceu o seguinte: “Amigo Cal, eu li o seu livro. Perguntei: “Qual deles, amigo?“ - “O trem e...
    Ora, eu só tinha três títulos publicados: O Ferroviário, O Grande Comandante e o Cristo Mulato. “Obrigado, amigo!” Aparece cada uma!!!
    Bom final de semana para todaos!

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