* Por Fernando Yanmar Narciso
Na língua inglesa, as palavras gula e ganância são sinônimos, representadas pela palavra Greed. Logo, para eles tanto faz se a pessoa é muito gulosa ou só pensa em adquirir cada vez mais dinheiro, é uma conduta socialmente aceitável em ambos os casos. Como afirma Gordon Gekko, personagem de Michael Douglas no filme Wall Street, Greed is Good.
Não é novidade nenhuma que o mundo está gordo. E não é só nos Estados Unidos, onde eles vendem salsicha no palito, enrolada em massa frita de panqueca doce de amora com gotas de chocolate- Tal iguaria existe mesmo, não estou inventando!-, coberta de maionese de bacon e acompanhada com um copão de 1 litro de Diet Coke, mas o mundo inteiro está comendo cada vez mais e se exercitando cada vez menos. O caso é que para a maioria absoluta da população fazer um regime é quase como levar uma injeção letal. Não faz parte da natureza humana a autonegação de qualquer coisa. Sempre queremos o maior, o melhor, o mais caro, o mais rápido, o mais bonito e em abundância.
Nos tempos de Charles Dickens, ele retratava todos os ricos como gordos, cínicos e auto-indulgentes, enquanto os pobres londrinos pareciam faquires. Por muito tempo a imagem de brasileiros pobres, desdentados, de corpos “esturricados” e não-escolarizados seguiu firme e forte. Aí veio o início do Plano Real, com um tremendo choque cultural para o proletariado. Por anos a fio, pobre mal podia comprar lata de sardinha, agora havia frango a 1 real e latinha de Kaiser a R$0,25. Alguns só conseguiam tomar leite se fosse materno, de repente a patuléia podia comprar até iogurte. Para eles era como ter champanhe e salmão no almoço e massagem nos pés de sobremesa!
Então entrou Lula no poder, e o universo dos comedores de rapadura e espetinho de calango foi virado do avesso mais uma vez. Graças aos programas sociais do governo, quem nunca teve nada na vida de repente passou a “ter tudo”, principalmente mais fácil acesso à comida.
Quer dizer, como é que alguém nessas condições vai pensar em fazer dieta? Quando tudo lhes era negado, era fácil ser magro. Agora os emergentes estão compensando tudo o que antes não conseguiam comer, e como hoje todos “podem” comprar carro 0Km e não precisam mais sair correndo atrás da condução ou subir a ladeira a pé, enfim, se exercitar, as cinturas aumentam e a vergonha na cara diminui cada vez mais.
Dá pra saber como é o caráter da pessoa só de observar seu carrinho no supermercado. Quanto maior a feira e quanto mais porcaria tiver no carrinho, menos confiável ela é. Já vi uma senhora passando no caixa mais de 20 pacotes de bolacha recheada, dez bandejas de Danoninho, uma barra de 5 kg de mussarela (É que não deu tempo de fatiar...) e uma manta de bacon, que ela já beliscava antes mesmo de fritar.
Aqui no Brasil a obesidade já se tornou uma epidemia. Não me levem a mal, como todo brasileiro eu adoro uma bunda enorme, mas não quando o resto do corpo também é! Vemos desfiles de verdadeiros Muros das Lamentações em toda a parte: Filas de banco, shoppings, supermercados, restaurantes... Mas raramente nas academias de ginástica.
As pessoas que de fato precisam fazer exercício dificilmente aparecem na musculação, e quando aparecem, é só porque o personal trainer os arrastou até lá pela papada. Elas dizem “Tenho muita vergonha do meu corpo, imagina todo mundo me vendo com esse tamanhão todo?” Bom, você não devia ter se permitido ficar assim, pra início de conversa!
E quem mais sofre com os novos adiposos são os pobres médicos endocrinologistas e nutricionistas, encarregados da divina missão de desembaiacar essa gente. Minha mãe é endocrinologista, uma das melhores da região. Ao contrário da maioria dos médicos, ela gosta de saber da vida dos pacientes, ser um tipo de psicóloga para eles. Dá até pra ter idéia das conversas que ela tem de ouvir... “Ah, doutora, eu tô tão gorda que quando eu sento no meio do banco de trás, o ar ao meu redor empurra todo mundo pra fora do carro...” “Ah, doutora, outro dia eu tava no ônibus, aí o pneu furou e me usaram de estepe...” “Outro dia, eu tomei um tropicão de boca aberta, meu nenê tava na minha frente e eu acabei engolindo ele...” E dizem que os pacientes mentem com um descaramento pros médicos que dá vontade de costurar a boca deles com arame. Espera aí... Seria essa a solução pros comedores compulsivos? Anotem essa, doutores e doutoras!
*Designer e escritor. Site: HTTP://terradeexcluidos.blogspot.com.br
Gostei quando faz alusão ao Plano Real, 1986, o "boom" da economia. Época das "vacas gordas". Um real valia um dólar. Supervalorizado. O poder de compra do brasileiro era grande. Nesse ano eu fui morar em S Paulo, na capital. Os MacDonald superlotados dia e noite. Eu mesmo era frequentador assíduo. E gordo hein! (rss)
ResponderExcluirMas isso já faz 26 anos. Hoje sou magrinho, esbelto. Nem precisei fazer dieta.(kkkk)Mas como você diz; "o mundo está gordo", ah está.
E realmente, ninguém quer fazer dieta, o negócio é comer, comer, comer....
Pegou pesado com os acima do peso, Fernando. Será que eles dizem coisas como as imaginadas por você?
ResponderExcluirEdir, o mundo está gordo e cada vez em idade mais precoce. Hoje pesei uma moça de 17 anos, 1m 60, 134 kg, e outra de 19 anos, 1m 65 e 110 kg. Aonde vamos parar?
Perdão! Perdão! Me equivoquei. Em 1986 foi o Plano Cruzado, no governo José Sarney. Entre o conjunto de medidas econômica tivemos o tão festejado "congelamento de preços".
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