quarta-feira, 11 de julho de 2012

Cantiga para Leonardo


* Por José Inácio Vieira de Melo

Leonardo,
o sorriso de tua musa me indaga
como uma adaga que fere a cicatriz.
Busquei decifrar essa mulher
nas filhas das filhas das tuas filhas
itálias que se fizeram brasis
e deram face ao novo mundo.

E em todas elas,
de todos os ângulos
em cada esboço de sorriso
no estardalhaço da gargalhada
ou nos gemidos do gozo,
estava onipresente
o enigma da Mona Lisa.

E com seus estandartes costurei
a colcha que me envolve,
que me comove e me retalha
e desfilam todas
na passarela deste poema
a inaugurar as formas do belo.

Soglia, Bompard, Buffone,
Mariniello, Di Gino, Michelli,
Morbeck, Ranieri, Pizzani,
eis os brasões assinalados
por meu punhal alagoano.

Leonardo, ho,em vitruviano,
Renasci nos acordes da tua lira de prata
Mamei nas tetas da loba
Para poder respirar a Via Láctea.

Rômulo e Remo são meus filhos
que galopam comigo e atendem,
por outras graças, por outros nomes
que soam sempre o primordial
Rômulo e Remo – meus ancestrais.

Leonardo, gênio da raça,
em que constelação estás?
Onde brilha a tua lâmpada maravilhosa?
Mostra as cinco pontas da tua estrela!
Inventa logo, com teu engenho,
Um pavão mysteriozo,
Uma máquina que me leve daqui
para o reino dos encantos:

uma Sicília onde a rainha
seja Cecília Meirelles,
tataraneta da Mona Lisa,
que anda sobre as águas
do Estreito de Messina
oferecendo a graça maior
da poesia.

O outro nome de Moisés
é Michelângelo
mas foi o teu pincel, Leonardo
que abriu o Mar Mediterrâneo
e com ele escreveste
as formas de uma deusa
que em sua face
traz todos os nomes.

Nota: Poema do livro “Pedra só”, publicado na antologia “Impressioni d’Itália – piccola antologia di poesia om portoghese com traduzione a fronte” (Napoli, U. N. O., 2011_. A antologia é bilíngüe e publicou poetas contemporâneos de língua portuguesa.

• Poeta, jornalista e produtor cultural alagoano, radicado na Bahia

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