domingo, 19 de abril de 2009




A internet não tem só um site: continuo me comunicando


* Por Seu Pedro

Estou a me lembrar, neste momento, de uma já antiga piada. Um caminhoneiro havia escrito, no pára-choque do seu caminhão, esta frase: Eu gosto de mulher! Teria de fazer entregas em uma pequena cidade, excessivamente moralista, e sua chegada foi um escândalo.

Reuniram-se prefeito, padre, vereadores, pastor, delegado, os três policiais e os voluntários de plantão, todos em volta do veículo. Dirigiram-se ao motorista e deram-lhe um ultimato: ou pintaria o pára-choque do veículo ou, se voltasse à cidade, seria preso, por despudoramento púbico.

Na semana seguinte, no dia de entregas na cidade, surgiu a poeira na estrada, avisando que o caminhão estava chegando. Os curiosos locais, que eram quase todos, além das autoridades, se colocaram nas janelas, quando não na praça, à espera. Esperavam que o motorista tivesse obedecido e pintado o pára-choque.

A surpresa foi geral. As beatas se persignaram e as autoridades se entreolhavam sem saber o que fariam. Não havia mais a frase que causou escândalo. Em seu lugar estava pintada outra: Continuo gostando!

Pois na Internet há (por enquanto há) um site com endereço de domínio comunique-se, que deve estar sendo comandado por rapazes novos, que insistem que têm visão, mas só enxergam números. Onde enxergam esses números eu não sei. Mas sei o que fizeram. Expulsaram (literalmente foi isso) escritores e poetas daquele endereço.

Eu, e creio que os demais que foram postos no olho da rua, digo: eles surgiram. no beco da Internet, por pura coincidência, quando as Torres Gêmeas caíram. Esses, entre os quais me incluo, fizeram, anonimamente, o Comunique-se crescer, embora sua inconveniência de também ter, em seu espaço de comentários, elementos nocivos. Mas vamos os esquecer.

Durante anos recomendei aos colegas jornalistas que acessassem o site dos jornalistas, e só agora descobri que essa juventude copia e cola não gosta de quem faz literatura. Ao que parece, para eles, não somos jornalistas. Eles não sabem brincar com as letras, não têm público cativo, esqueceram-se das entrelinhas e não sabem compor frases que não sejam: eu quero o diploma. É por isso é que vão perdê-lo... E eu? Continuo me comunicando!

(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.

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