domingo, 26 de abril de 2009




Coisas do Sertão “Já é-vem a chuva”


* Por Seu Pedro

O homem inventou que rezar a Deus depende de ladainhas, como se não bastasse dizer ao Pai a palavra mais sintética de todos os agradecimentos; obrigado! São horas debulhando rosários pelas rezadeiras que, como diz um poeta, “cismam em ter pecados”. Mas que bom que fazem! O obrigado cabe em tudo para Deus. No agradecimento pelo perdão concedido, pelo momento feliz que estamos vivendo, e pelo agradecimento antecipado ao que de bom acontecerá.

No sertão, onde há uma tradição de seca, haja quem faça, por imitação da “dança da chuva” dos índios, a “reza da chuva”, onde as mãos subindo e descendo, o corpo se ajoelhando e levantando, e às vezes até ensaiando alguns movimentos ao redor de si, só querem água, vinda do céu. Ai as rezas se alongam da nave das igrejas ao alto dos campanários. São rezas pedindo para chover no Sertão.

Até ateu reza com medo de passar sede. Há casos de velhas senhoras, e alguns senhores também, que entram na igreja com o terço na mão e ao fim da missa continuam rezando no caminho. Por vezes se abrigam embaixo de árvores para fugir do sol escaldante, mas sempre pedindo chuva torrencial. (É engraçado: o que escalda é a chuva e o que torra é o sol!) Ali, não estão pedindo somente para eles. A chuva é de interesse difuso, de todos.

Bem, mas agora vem o mais interessante. É que Deus, de ouvidos abertos, fecha o céu com nuvens cinzas, em prenúncio de chuvas. O camelô nas esquinas e as lojas de R$ 1,99 começam a vender guarda-chuvas de R$ 10,00, e os vendem em cachoeira, antes mesmo do primeiro pingo. E quando a chuva é-vem, todos correm e se escondem dela. Os que têm, abrem seus guarda-chuvas, e os demais se protegem com capas, dentro de lojas ou embaixo das marquises. O que me leva a perguntar: por que rezaram tanto? Até parece que não querem receber o presente de Deus!

(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.

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