Na hora H
* Por
Letícia Vidica
- Acho que o Pierre
não me ama mais.
- De onde você tirou
essa besteira, Diana? – perguntava Betina enquanto bebíamos nossa rotineira
breja de sexta.
- Da nossa vida
sexual. Está uma merda. Ele deu para me evitar agora. Ontem, disse que estava
com dor de cabeça. Semana passada, preferiu ir ao Pacaembu do que ao motel
comigo. Estou arrasada! – confessava às minhas amigas.
- Ixi, acho que você
não tá dando no couro hein? – ironizava Betina.
- Nada disso. Você
precisa apimentar a sua relação. – dizia minha conselheira sexual e amorosa,
Lili
- Lá vem você com as
suas fantasias...
- Confia em mim ou
não?
Eu bem que confiava,
mas o apetite sexual e a mente criativa da Lili às vezes amedrontava. Porém,
dessa vez, ela até que foi um pouco sensata. Me convidou para ir a uma sex
shop. Eu sempre tive curiosidade de ir a uma dessas lojas, mas morria de
vergonha de ser flagrada entrando ou da recepcionista ser a filha da minha
vizinha.
Combinamos o passeio a
três para o dia seguinte. Era caso de vida ou morte. Eu e o Pierre sempre
tivemos uma relação sexual muito ativa. Para gente nunca tinha tido hora, nem
lugar, nem razão para pimbar na cachulinha, mas de uns tempos para cá tudo
andava muito monótono e programado. E, o pior de tudo, é que parecia que só eu
me importava.
- Tá tudo bem com
você, Pi? – eu dizia acariciando os cabelos dele.
- Tá sim. – ele
respondia sem manifestar nenhuma reação aos meus carinhos.
- Tem certeza? – eu
acariciava o tórax dele e continuava a não demonstrar nenhuma reação.
- Ih o que é, Diana? –
perguntava o brutamonte quebrando todo o clima.
- Tô te achando meio
frio. Nem fica mais pertinho de mim. A gente nem transa mais...
- Lá vem você com esse
papo de novo. Já disse que está tudo bem e que é coisa da sua cabeça!
- Coisa da minha
cabeça? E você lembra ao menos a última vez que fizemos amor?
- Ah lá, nem consegue
lembrar porque faz tanto, mas tanto tempo né? Aposto que você tem outra.
- Pára de besteira,
Diana. Eu lá tenho tempo para isso? Não é nada. Só não sou uma máquina de fazer
sexo né?
E assim seguia a nossa
discussão sobre nossa vida sexual que sempre terminava em brigas, mas nunca em
sexo. Nem para isso mais as brigas serviam.
Então eu tinha que
tomar uma iniciativa. Resolvi me desbancar até a tal da sex shop. A Lili já foi
entrando na maior naturalidade e me apresentando aos produtos enquanto eu
tentava me esconder atrás da bolsa e por entre as prateleiras. A Betina também
pareceu familiarizada com o ambiente e resolveu ver as novidades em vibradores,
seus velhos amigos.
- Olha só isso aqui,
Diana. É uma loucura!
- Fala baixo, Lili.
Alguém pode ouvir.
- Qual é, Diana? A
gente está numa sex shop e não na igreja. Acho bom você relaxar se não desse
jeito não vai dar certo.
Ficamos por umas duas
horas na loja. A Lili me explicava quase tudo. Para quê servia, como usar, dava
dicas etc etc etc. Saí de lá com uma sacola regada de fantasias, gel, máscara,
acessórios, joguinhos eróticos. Uma bela compra sexual.
Liguei para o Pierre e
pedi que ele passasse em casa mais tarde que eu tinha uma surpresa. Preparei um
jantar gostoso à luz de velas, coloquei uma musiquinha especial, joguei pétalas
de rosas pela casa, perfumei com incenso e vesti a tal fantasia de empregada.
A campainha tocou, meu
coração disparou e abri a porta. O Pierre me olhou assustado e ao invés de
começar a me beijar ferozmente, começou a rir.
- Não estou entendendo
qual é a graça! – eu disse furiosa.
- Nada, amore, você tá
uma gatinha...mas é que eu lembrei...
- Do quê?
- Deixa para lá.
Resultado: me senti
uma ridícula, desmanchei tudo, mandei o Pierre para casa e fiquei sem sexo.
- E aí, amiga, como
foi a noite de amor? – perguntava Lili ao telefone logo cedo.
- Não teve noite de
amor. Acredita que o Pierre riu de mim? Que idiota que eu sou!
- Não vamos desistir
dessa batalha, amiga.
- Como não?
- Tenho uma idéia
ótima. Que tal um passeio a quatro no sábado?
- Faço tudo para
voltar a transar
Sem saber o que a Lili
aprontava, convidei o Pierre para sair junto com ela e o Luis Otávio. A
necessidade era tanta que eu me submeti a passar a noite ao lado daquele
babaca.
- Chegamos! – dizia
Lili toda empolgada enquanto parávamos o carro em frente ao um local que mais
parecia um bar.
- Posso saber onde a
gente está? – perguntava Pierre desconfiado.
- No paraíso, meu
amigo, vamos entrar que você não vai se arrepender – diz Luis Otávio dando
tapinhas nas costas de Pierre e parecia familiarizado com o local.
Desconfiados, fomos
adentrando o ambiente, sentamos em uma mesa que estava reservada, pedimos umas
bebidas e fui percebendo a chegada de vários outros casais. Até aí, tudo bem.
De repente, a recepcionista nos perguntou:
- Vocês vão
participar?
- Claro! – respondia
Lili empolgada.
- Do quê? – perguntei.
- Da sessão de swing.
– dizia a recepcionista como quem diz que vamos cantar no karaokê, com a maior
naturalidade.
O Pierre me olhou
fuzilando e eu fuzilei a Lili. Nós estávamos numa casa de swing.
- COMO ASSIM SWING? –
berrou o Pierre.
- Calma, Pierre. –
tentei amenizar a situação.
O que era para ser
pura diversão - se é que eu conseguiria me divertir - virou um porre. Enquanto
a Lili e o Luis Otávio se esbaldavam com a galera, eu e o Pierre assistíamos a
tudo sem o menor clima e sem ao menos nos tocarmos. Pouco tempo depois,
levantamos e fomos embora.
Pierre foi o tempo
inteiro calado e só resolveu falar quando parou o carro na frente da minha casa
- Acho que hoje você
foi longe demais com isso né?
- Pierre, eu sabia o
tanto quanto você. Nada. A Lili só me convidou para sair.
- Então quer dizer que
suas amigas estão com piedade da gente? O que elas têm a ver com a minha vida
sexual?
- Com a nossa, você
quer dizer né? Eu me abro com elas sim! Confesso que não esperava isso dela,
mas o que tem? Podia ao menos ter te animado né?
- E ficar transando
com a minha namorada na frente dos outros? Você enlouqueceu né?
- Realmente, eu
enlouqueci, Pierre. Enlouqueci porque quero que meu namorado me deseje, só
isso! Mas acho que é pedir muito para você né?
Desci do carro, bati a
porta com força e deixei ele falando. Subi para o meu apartamento batendo as
tamancas. Para minha alegria ou tristeza, o Pierre subiu atrás de mim e, assim
que eu abri a porta, ele me agarrou, me beijou com vontade e o resto você já
sabe né? Lererê a noite toda. Finalmente, ele cedeu. Passamos o final de semana
trancados no meu apartamento colocando a conversa em dia.
***
- E aí, Diana,
resolveu o problema?
- Ai, Lili, você é uma
figura. O Pierre odiou a surpresa, mas graças a sua idéia ele se redimiu e nos
amamos novamente.
- Pelo menos,
funcionou né? O bichinho acordou.
- Pois é, mas pelo
amor de Deus, da próxima vez não inventa mais nada não ok? Deixa que eu me viro
- Tudo bem, eu só quis
ajudar.
Até o momento, a chama
ainda não baixou, mas quando vejo que ela está ficando morna dou meu jeitinho.
Claro, sem bancar a empregada e nem muito menos querer encarar swing.
*
Jornalista.
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