A Proclamação da República
* Por
Clóvis Campêlo
Os mais críticos e
pessimistas dirão que foi mais uma quartelada (ou a primeira) acontecida na
história do Brasil. Os mais amenos dirão que foi um levante político-militar
acontecido em 1889. Segundo os historiadores, o evento, presenciado por poucos
e nem mesmo notado pela maioria da população, aconteceu na cidade do Rio de
Janeiro, na Praça da Aclamação (atual Praça da República), quando um grupo de
militares comandados pelo marechal Deodoro da Fonseca, destituiu o imperador D.
Pedro II e assumiu o poder no país.
Na verdade, naquela
altura dos acontecimentos, o governo monarquista desagradava a quase todos os
grupos que tinham força política e poder de decisão sobre os rumos da nação.
Os conservadores
questionavam os atritos do imperador, homem ligado à ciência e aos conceitos
científicos, com a Igreja Católica. Os grandes fazendeiros não perdoavam o
Império pela abolição da escravatura, ocorrida um ano antes, sem a indenização
dos proprietários dos escravos.
Por outro lado, os
progressistas questionavam a demora da monarquia em abolir a escravatura e a
ausência de iniciativas desenvolvimentistas, entre as quais o direito à
educação para todas as classes sociais. Era alto o índice de analfabetismo no
país e a miséria grassava entre os menos afortunados.
Segundo os entendidos
no assunto, Dom Pedro II era querido e admirado pelo povo. O mesmo não
acontecia, porém, com o restante da corte. Para complicar ainda mais a
situação, o imperador não tinha filhos do sexo masculino e, em caso da sua
morte, assumiria o trono a Princesa Isabel, casada com o francês Conde D'Eu,
homem arrogante e impopular, dono de vários cortiços no Rio de Janeiro, onde
explorava a gente pobre com alugueis extorsivos.
Também contribuiu para
o desgaste do imperador e do governo monarquista, o crescimento da nossa dívida
externa que, em menos de vinte anos, de 1871 a 1889, aumentou em quase sete
vezes o seu tamanho, gerando uma inflação anual de 1,75%.
No entanto, segundo
vários dos textos por nós consultados, foi a insatisfação da classe militar,
que se considerava sem vez e sem voz no país, que levou o acontecimento a cabo.
Apesar de ser monarquista e da sua fidelidade ao imperador, o marechal Manuel
Deodoro da Fonseca terminou por aceitar os argumentos apresentados por seus
companheiros de farda. Comandando algumas centenas de soldados pelas ruas do
Rio de Janeiro, montado em um cavalo que lhe fora oferecido no antigo Campo de
Santana, proclamou a República em alto e bom tom. Consta que depois do ato
histórico, teria apeado do cavalo e voltado tranquilamente para a sua
residência.
Consta também que D.
Pedro II ao tomar conhecimento da amplitude dos fatos, que até então lhes
haviam sido convenientemente ocultados, decidiu não oferecer resistência,
capitulando.
Recife, 2013
* Poeta, jornalista e radialista.
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