Cinema
* Por
Fábio Maia
Anibaldo sempre foi um
rapaz alegre, divertido. Fazia sucesso com as mulheres e gostava não só de
estar presente nas festas e reuniões com os amigos, como também sabia tirar
proveito de cada tipo de situação. O que ninguém sabia, no entanto, é que ele
sofria de um mal: filmes de terror.
Anibaldo não conseguia
assistir a este tipo de filme. Acreditava em espíritos e morria de medo deles.
Tinha medo até de escovar os dentes, pois “nunca se sabe se alguém irá aparecer
atrás de mim quando eu fechar o espelho”. E, no meio de tanto pavor, acabou por
conhecer Cléa, a menina mais bonita da escola.
Combinaram de sair e
foram ao cinema. O problema é que os ingressos para a comédia romântica que ela
tanto queria assistir já estavam esgotados. O filme de super-heróis? Só os
assentos de frente ao telão estão disponíveis, senhor. Sobrou o filme de
terror. “Bom, já que viemos até aqui, vamos assistir esse de espíritos, mesmo”,
disse Cléa, enquanto Anibaldo tirava um terço do bolso.
Compraram três
ingressos: um para ela, um para ele e outro para o cagaço que Anibaldo estaria
prestes a sentir. Sentaram-se na última fileira. Os trailers passaram rápido. O
filme começa.
– Nossa, eu tô todo
cagado. – diz Anibaldo.
– O quê?
– Eu tô todo excitado!
Esse filme! Nossa, parece ótimo…
– Ah, sim. Eu tinha
entendido outra coisa.
– É porque você está
amaldiçoada.
– O quê!?
– Você é abençoada!
Meu Deus, que alegria. Dá até menos medo de assistir esse filme com você do meu
lado!
– Você está com medo
do filme, Aní? – ela o chamava de “Aní”. – Porque não tem problema nenhum se
você estiver…
– Medo? Que isso. Eu
tô tranquilíssimo. É só essa…
Uma cena surpreende
Anibaldo, que não se aguenta:
– Puta que pariu!
Quequié isso, minha gente? Vamos embora.
– Aní, você tem
certeza que está tudo bem? As pessoas estão olhando…
– Elas não são
pessoas. São mensageiros do mal.
– Aní, já chega! Você
está surtando! É o nosso primeiro encontro e você está me fazendo passar
vergonha. Por favor, você pode se comportar e assistir o filme até o final?
– Tudo bem. Mas tem um
preço.
– E qual é o preço,
Aní?
– Eu não vou conseguir
dormir sozinho à noite…
*
Jornalista.
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