Está escuro
* Por
Eduardo Oliveira Freire
Olha pela janela
descascada da biblioteca. Um leve arrepio na nuca. Tem um pressentimento. Sai
apressada, o campus está escuro. O ônibus circular da universidade demora.
Pensa na moça que foi
currada e assassinada. “Não quero pensar nisto”. As mãos estão geladas. Tenta
ligar para casa, não consegue. O celular cai no meio fio da calçada.
Ao pegá-lo, vê um
cordão dourado arrebentado, o pingente tinha o formato da letra J. “A garota
morta, chamava-se Julieta.”. Coração acelera. Um vulto passa rapidamente. “É
uma besta enorme”.
Surgem passos, corre
outra vez para o prédio da biblioteca, que está fechada. Começa a chorar e as
pernas paralisadas. Corre com dificuldade. A besta emite um som aterrorizador.
Começa a lembrar dos
seus queridos pais, irmãos e do ex-namorado que a não deixava em paz. Os passos
aumentam, parecem bandos.
O campus está um breu
total. Vândalos atiram nos transformadores. Sente a urina escorrer entre as
pernas, quer gritar, sua garganta se fecha, falta-lhe ar. Escuta um grito
dolorido que se expande na decadente arquitetura do campus.
Corre. Encontra um
corpo, o reconhece o corpo de ex-namorado. Apesar do choque, sente-se livre. De
repente, se encontra cara a cara com a besta e se reconhece no olhar dela. Ouve
o barulho do ônibus.
*
Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante
a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/
Quase morte seguida da libertação. Eletrizante.
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