É possível humanizar o capitalismo?
* Por
Dinovaldo Gilioli
É lógico que as
grandes empresas e corporações têm seus mecanismos de compensação e através
especialmente da área de RH, notadamente no campo da saúde e segurança,
implementam ações que visam a valorização do empregado, a melhoria da qualidade
de vida e das relações de trabalho. No entanto, a prevenção de doenças e de
acidentes objetivam, sobretudo, reduzir o absenteísmo e diminuir custos com
tratamento de saúde.
Por traz dessa
preocupação com o “lado humano” está a tentativa de abstrair, ou até de
esconder a exploração; condição necessária e fundamental para o êxito e
reprodução do sistema vigente. Todos esses “ingênuos” e “bem intencionados”
instrumentos têm a finalidade primeira de aumentar a produção e o lucro da
empresa. De amortecer conflitos, de minimizar as contradições oriundas de uma
sociedade capitalista e de disciplinar a força de trabalho para aceitação do
sistema instituído.
Veja bem, não estamos
aqui desmerecendo os cuidados atinentes à saúde e segurança do trabalhador.
Alertamos que, até isso, por mais absurdo que possa parecer, faz parte da
estratégia para reduzir custos e auferir mais lucro. Portanto, é infundado o
discurso de que é possível humanizar o capitalismo.
Essa retórica só serve
para confundir, iludir e ludibriar. Só serve para fragilizar a luta por um novo
modo de vida, cujo centro seja o ser humano; e não a mercadoria, o dinheiro e a
apropriação desmedida e inconsequente dos recursos naturais. Atitude esta, que
compromete a efetiva qualidade de vida da maioria da população e coloca em
risco as futuras gerações.
É nesta complexidade
que se insere a ação de um sindicato, agora mais desafiadora em função da crise
mundial em curso. Queiramos ou não, aceitando ou não, estando preparados ou
não, as consequências negativas recairão sobre os trabalhadores; especialmente
dos menos organizados e sem força de representação e de ação concreta. A atual
crise é utilizada como mais um argumento para justificar e conseguir um maior
envolvimento dos empregados no alcance das metas estabelecidas pelas
organizações.
E mais do que isto, as
empresas se utilizarão do momento para aumentar a sua produtividade (acelerando
ainda mais o ritmo do trabalho), e disseminar a ideia de que tudo isto está
sendo feito para evitar maiores prejuízos aos próprios trabalhadores. Leia-se
demissão, congelamento de salário e redução de direitos. Sendo assim, os
sindicatos, os trabalhadores devem continuar atentos e dispostos a enfrentar
juntos o que aí está e o que virá!
*
Poeta, tem 6 livros publicados, entre eles,“Cem Poemas” (Editora da UFSC).
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