Pílulas literárias 217
* Por
Eduardo Oliveira Freire
MESMO SOFRIMENTO
Pela televisão,
assistiu a notícia de refugiados fugindo da guerra. De repente, viu uma menina
e a reconheceu.
- Ana! Ana!
A filha apareceu
assustada:
- Papai, o que aconteceu?
- Vi Ana na tevê!
- Papai, sua irmã
morreu há muitos anos!
- Era ela! Ana.
Tadinha, ela continua perdida e fugitiva desta guerra.
- Papai, a guerra
mostrada agora é outra e não aquela que você sobreviveu.
- Será que você não
entende que é a mesma e o mesmo sofrimento, apesar do tempo?! Por isso, vi minha
Ana, a mesma garotinha me azucrinava para soltar pipa com ela. Foi tudo tão
rápido! Soldados, gritos, tiros, corri como meus pais me mandaram, de repente,
estava sozinho nas ruínas do bairro onde nasci. Nesse dia, Ana usava um vestido
branco e quando a vi, na tevê, estava com o mesmo.
***
DE VOLTA
Ao ver que a chave
encaixou na fechadura e o portão se abriu, ficou surpreso e adentrou pela casa
com receio de como seria recebido. Encontrou os pais envelhecidos assistindo a
tevê e quando o viram a mãe lhe disse:
- Caramba, filho, como
demorou! E ainda nem comprou o pão. Ficou com dinheiro e gastou tudo, né? Ainda
bem que seu pai já comprou. Preparei um lanche pra gente. Agora, vai tomar um
banho. Desde menino sumia por aí e voltava todo cheio de lama.
***
*
Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante
a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/
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