A
menina e a mulher moram em mim
* Por Evelyne
Furtado
Há dias que acordo menina. Não quero
deixar os lençóis macios, nem os sonhos bons. A vida lá fora não me atrai.
Melhor deixar que os adultos tomem conta, pois essa menina aqui quer ficar
quietinha com seus devaneios felizes. Quem sabe, não adormeço de novo e sonho
com meu príncipe?
Como menina sou frágil e indefesa, sinto-me abatida na caça. Acho que o que fazem comigo é para me magoar. Choro, mas é um choro abafado, pois a mulher ainda comanda a menina. Procuro colo, como uma criança faz e encontro.
São anjos que me querem
bem e que já não se impressionam com meu choro, contudo se preocupam com
a minha dor. Sento no colo dos seres que Deus mandou para me ajudar e fico
ouvindo tudo de bom que eles têm para me dizer.
Ah, eles enchem a bola dessa menina-mulher, mas também se acham no direito de me repreender. E só a eles eu ouço. Eles também não me deixam sem companhia, me levam a rir e a tentar ver a vida com olhos esperançosos de mulher.
Depois do pranto infantil, a mulher toma seu posto. A dor continua, mas ela já sabe andar só. Sabe que tem que levantar e curar suas dores; tratar de sua vida. Então, levanta e vai trabalhar. É preciso. A mulher se renova. Volta à academia. E reza. Cuida do corpo e da alma.
Tropeça vez ou outra (é a menina
andando nos saltos altos da mulher). Porém a mulher já caiu outras vezes e
aprendeu a levantar, apesar da dor que não cessa.
De vez em quando a menina se encolhe e chora. Seu analista diz que é assim
mesmo. Diz que ela tem todas as armas da mulher, mas que não aprendeu a
usá-las. Todavia, insiste o terapeuta, é necessário agir como mulher e
prosseguir.
Essa menina mora em mim, mulher madura. E apesar da idade ainda não aprendeu que a vida não é tão bonita como nos filmes de amor, mas a cada dia ela se sente mais mulher e mais forte. E com vontade ser feliz.
* Poetisa e cronista em Natal/RN
Sonhar um pouquinho, idealizar um mundo melhor, não faz mal. O mundo é mais bonito através dos seus sentimentos, Evelyne
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