sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Pílulas literárias 217


* Por Eduardo Oliveira Freire


MESMO SOFRIMENTO

Pela televisão, assistiu a notícia de refugiados fugindo da guerra. De repente, viu uma menina e a reconheceu.
- Ana! Ana!
A filha apareceu assustada:
- Papai, o que aconteceu?
- Vi Ana na tevê!
- Papai, sua irmã morreu há muitos anos!
- Era ela! Ana. Tadinha, ela continua perdida e fugitiva desta guerra.
- Papai, a guerra mostrada agora é outra e não aquela que você sobreviveu.
- Será que você não entende que é a mesma e o mesmo sofrimento, apesar do tempo?! Por isso, vi minha Ana, a mesma garotinha me azucrinava para soltar pipa com ela. Foi tudo tão rápido! Soldados, gritos, tiros, corri como meus pais me mandaram, de repente, estava sozinho nas ruínas do bairro onde nasci. Nesse dia, Ana usava um vestido branco e quando a vi, na tevê, estava com o mesmo.

*** 
DE VOLTA

Ao ver que a chave encaixou na fechadura e o portão se abriu, ficou surpreso e adentrou pela casa com receio de como seria recebido. Encontrou os pais envelhecidos assistindo a tevê e quando o viram a mãe lhe disse:
- Caramba, filho, como demorou! E ainda nem comprou o pão. Ficou com dinheiro e gastou tudo, né? Ainda bem que seu pai já comprou. Preparei um lanche pra gente. Agora, vai tomar um banho. Desde menino sumia por aí e voltava todo cheio de lama.

***

* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/



Nenhum comentário:

Postar um comentário