O despacho
* Por
Ana Deliberador
Zelinha era uma mulher
muito inteligente – brilhante mesmo – mas com um sério problema: era de uma
desorganização financeira de dar dó. Vivia em desespero por falta de dinheiro.
E aquela era uma
dessas ocasiões em que tudo dava errado. Andava com uma “urucubaca” danada. Desesperada resolveu dar uma última
cartada: procurou um pai de santo num terreiro de umbanda. De lá saiu com a
promessa de que a situação iria ser resolvida. Bastava trazer um urubu pra ele
fazer o trabalho.
Muito reservadamente,
conversou com um soldado que lhe tinha muito apreço e,
muito sem graça, fez-lhe o estranho pedido.
– Tudo o que a senhora
me pede é uma ordem, doutora! respondeu
o homem, e foi em busca da ave, muito abundante lá pelos lados do matadouro.
Dia seguinte, lá veio
ele com um saco com algo dentro que se mexia, desesperadamente.
- O prisioneiro ta
aqui, doutora! – disse o soldado, feliz pela missão cumprida.
Zelinha voltou, então
ao terreiro e escreveu, em uma folha branca, tudo o que lhe afligia.
O pai de santo amarrou
o papel no pé do urubu, levou o assustado animal até a porta e o soltou,
dizendo:
– Todos os seus
problemas acabaram. Voaram junto com esse urubu!
Zelinha voltou para
casa feliz, esperançosa. Jantou e dormiu bem, como há muito tempo não fazia.
Acordou com o mesmo ânimo, tomou banho, se arrumou e foi para o trabalho.
E…nada!
Tudo continuava tal
qual antes!
* Professora, pintora e escritora
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