segunda-feira, 12 de março de 2018

Cinema mudo - Talis Andrade


Cinema mudo

* Por Talis Andrade

Na roda da fortuna
revejo coisas passadas
cenas de um mundo
esquecido mundo
povoado de sombras
Cenas que passam
em preto & branco
e ceifa a peste
o fogo dizimando
as aldeias e a floresta
Índios vestidos
coa a camisa de fantasma
pajés a profetizar
no frenesi das Santidades
a Terra Sem Males
Cenas mudas
de negros escravos
zumbis mal-assombros
arrastando correntes
nas escuras senzalas
Cenas de um filme
em preto & branco
de capa e espada
góticos sobrados
estalagens malditas
em que se bebe rum
pelas almas dos capitães
dos navios piratas
Pelas ruas do Recife
revejo frades e padres
conspirando pela liberdade
Frei Caneca caminhando
com o baraço dos enforcados
Frente ao espelho
por trás do espelho
visagens vão passando
Embaçados esboços
máscaras trans
figuradas caras
vão passando
Rostos infantis
envelhecidos pelo tempo
Vagantes almas
misturadas com os viventes
em uma dança de cadáveres
Rastejantes sombras
dos governantes quadrúpedes
que roubam a quadra do tempo
Perdidas almas
dos salteadores de estrada
cobradores de impostos
fiscais de justiça
gerentes de banco
contadores de juros
vão passando
Revejo coisas passadas
coloridas imagens
lindas paisagens
lindas meninas
dançando pastoril
no céu de Olinda
os corpos girando
montados em cavalinhos
cavalinhos de madeira
pintados de encarnado
pintados de azul
em um carrossel rodando
rodando nas festas de rua

* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).



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