segunda-feira, 26 de março de 2018

Anhangá - Antonio de Campos


Anhangá*


** Por Antonio de Campos


Poema escrito 15 anos antes do assassinato de Marielle Franco

De sangue pisado
é a rosa na lapela
do terno de linho caiado
com a cal do túmulo dos tombados

E o coração, somente
um músculo doente
Deus & o Diabo
dormem juntos
no mesmo motel

Sem fim os bárbaros,
sua tribo, feito urtiga
Sem controle a legião –
em todo lugar vinga

Um cadáver perde a mãe
em cada esquina

Por feliz se dá
quem foi morto
uma só vez

Onde há dois,
dos pés dum o tapete some
pior que o tombo
cabeça esmagada

Olho por olho
deixou de ser a lei
Não há mais olho a perder –
todos já nascem cegos
Há brilho de césio nas palavras!


* Espírito do Mal entre os índios tupy


Ao terminar este poema, estava me sentindo desconfortável, como se possuído pelo Espírito que, até hoje, acompanha o nosso país: o Espírito de Anhangá.


** Poeta, jornalista e advogado


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