quarta-feira, 21 de março de 2018

Almoço da Páscoa - Núbia Araújo Nonato do Amaral


Almoço da Páscoa

* Por Núbia Araújo Nonato do Amaral

Entrei na casa ventando, invadi a cozinha dei um beijo em sua cabeça e fiquei estrategicamente encarapitada em suas costas. Hoje ela ia preparar o almoço da Páscoa, todos os anos eu acompanhava aquela alquimia. Ficava impressionada com os movimentos daquelas mãos pequenas e de seus dedinhos curtos.

A couve estava separada em uma vasilha lavada e sem o talo. As batatas foram cozidas numa panela com água e cubos mágicos que ela não deixava eu ver. As cebolas cortadas em grossas rodelas, azeitonas sem caroços e muito azeite para regar o prato. O bacalhau separado em postas e dessalgado aguardava sua entrada magistral.

Eu olhava aquilo tudo com água na boca enquanto ela me vigiava com um sorriso disfarçado, não queria me dar confiança... O forno já estava ligado só para dar uma aquecida no prato. No tabuleiro folhas de couve pré-cozidas, uma camada de batatas cortadas em rodelas, as postas de bacalhau as cebolas e as azeitonas. As camadas iam se sucedendo intercaladas.

Por fim, ela despeja o azeite em cima do prato e o leva ao forno. A mesa preparada para receber o prato principal estava arrumada, uma confusão de pratos e talheres, crianças e adultos, até que ela surge soberana e deposita o bacalhau na mesa sorrindo feliz em ver a casa cheia e por ser o centro das atenções.

Ela se foi... hoje quem faz o bacalhau sou eu... Desvendei alguns mistérios e segredos daqueles dias, mas sem dissecá-los. Seu ingrediente secreto? Amor.


* Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário.



Um comentário:

  1. Os cheiros e gostos nunca vão embora, a lembrança do amor pode ficar esmaecida, enquanto a saudade aumenta.

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