quinta-feira, 29 de março de 2018

Poema sem importância - Pedro J. Bondaczuk


Poema sem importância

* Por Pedro J. Bondaczuk

Não importa a imagem cansada
que a luz projeta no espelho,
a retina fotografa,
o computador analisa
e requisita manutenção.

Não importa a hematoma roxa
das olheiras circulando os olhos,
nem as raias vermelhas
que contrastam com seu azul.

Não importa a devastação dos cabelos,
as clareiras da calvície
e algumas mechas de algodão,
descoloridas pelo uso.

Não importam os vincos na testa,
as cicatrizes de angústias
de comezinhas preocupações.

Não importam as bochechas murchas,
flácidas, elásticas, ocas,
ante a ausência de dentes.

Não importam os dentes falhos,
coloridos de nicotina,
estiletes amarelados,
desgastados pelo uso.

Não importa a lixa da barba
escondendo sulcos profundos
que o Tempo riscou.

Não importa o tremor das mãos,
o porte recurvado
pela escoliose,
como se os fardos dos anos
fossem sacos de estopa com chumbo.

Não importa a imagem desgastada,
a estrutura devastada,
o aspecto melancólico.
Importa que a chama do entusiasmo
a Tempo ainda não apagou!!!


(Poema composto em Campinas, em 24 de junho de 1974 e publicado no "Jornal de Paulínia", em 22 de outubro de 1977).


* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

Um comentário:

  1. Ainda menino e já se sentindo acabado. Quanta inocência. É um pouco como uma barriga de gravidez. Boa parte das mulheres, aos sete meses de gestação, diz ter certeza de não chegar aos nove meses, pois a barriga está imensa. Mal sabe ela que em dois meses o tamanho da circunferência irá dobrar. O tempo e a experiência vão mostrando como nos enganamos em relação a muitas mudanças corporais. No Brasil fazer 40 anos é ficar velho, porém esse conceito já vem mudando, pois muitos ultrapassam os 90 anos, e chegar aos 80 é algo que muitos almejam alcançar.

    ResponderExcluir