sábado, 31 de março de 2018

Só mais um recado - Francielle S. Costa


Só mais um recado


* Por Francielle S. Costa. 


Durante algum tempo hesitei em abrir aquela porta, de tal maneira, tempo bem longo por sinal. Passei vários dias pensando o que era certo ou errado, se valeria a pena ou não, mas minha consciência está bem limpa, até. Eu não vou mentir que por várias vezes tentei espiar pela fechadura, pra ver o que realmente havia do outro lado, porque, pra mim, estava sempre tudo escuro, buscava uma fresta que fosse, na verdade um tipo de ''sentido''. Mas parece que o outro lado sempre estava se recuando.

Às vezes parecia querer mostrar um pouquinho de si. Talvez achasse que era transparente, e eu, sempre que tinha uma brecha, aproveitava pra tentar abrir a tal ''tranca''. Mas sempre acabava sendo jogada pro outro lado. Essa curiosidade toda se dava pelo fato de tentar desvendar, de todas as formas possíveis, aquilo que estava ali, bem na minha frente. Acreditava que se conseguisse entrar, poderia compartilhar de muitas coisas boas, como um presente que você rasga depressa a embalagem pra aproveitar o que tem dentro.

Tentei de tudo, mas parece que tudo estava perfeitamente atado, como um nó. O pior de tudo é que eu acreditava que conseguiria, porque queria, e nunca passou pela minha cabeça que o tal ''outro lado'' não queria, de forma alguma, mostrar o que tinha lá dentro.

Ficava se retorcendo todo quando parecia que ia se abrir, e nada. Se fechava ainda mais e, pior, sem nem ao menos dizer ''não perturbe''. Queria que eu continuasse ali parada, esperando. Aquela porta que eu tanto tentei abrir, hoje deu lugar a outras janelas que pensam me assombrar, pacientes, até que eu vá e as feche novamente. Demora, mas o melhor a fazer é deixá-la lá e acenar, de longe, lamentando por não ter feito isso há mais tempo.
 

* Jornalista de Curitiba.

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