segunda-feira, 26 de março de 2018

Limbo - Talis Andrade


Limbo

* Por Talis Andrade

Pelo tempo infinito
eu permaneça
protegido
das águas escumantes
que incharam o corpo
do poeta Sheley
das águas viscosas
venosas
que apodreceram
Tchaikovsky
 
Protegido permaneça
da sina de Pilatos
morto
afogado
em invisível taça
de vinho morno
com gosto
de chumbo
e posca
 
Protegido das chamas
que consomem as almas sebosas
dos possuídos por Lúcifer
os filhos da perversidade
os governantes corruptos
os legisladores vendidos
os juízes iníquos
os escravocratas
que submetem o povo
na fome e no afogo
os que transformam o mundo
em uma cavidade tenebrosa
 
 
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Ilustração: Inferno. Anônimo. Século XVI. Museu Nacional de Arte Antiga Lisboa.
 

* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).



Um comentário:

  1. Poema completo que está mais para Inferno. As pessoas que não foram batizadas ficam no Limbo, onde não sofrem e nem são felizes. O tempo lá é eterno. Minha mãe, que era obstetra, batizava todos os recém-nascidos em dificuldades, com medo de que morressem e fossem jogados lá.

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