Poetas da moda
Prezado e assíduo leitor, boa tarde. Você já notou como em
cada época há um poeta que fica na moda? A imprensa fala dele, os namorados
valem-se dos seus versos para expressarem amor, nos círculos estudantis mais
intelectualizados seus poemas são recitados a todo o momento e vai por aí
afora. Parece que cada geração elege os seus.
O chato é que, passado certo tempo, eles vão sendo
esquecidos aos poucos e, quando se percebe, ninguém mais fala deles. O ideal é
que nunca os apreciadores de poesia os esquecessem. Que seus versos fossem
imortalizados e estivessem sempre na mente e nos corações de todos. Afinal, a
vida, sem poesia, torna-se de uma chatice atroz.
Ao longo da minha vida, já vi muitos poetas entrarem e
saírem de moda. Essa é a vantagem de se viver muitos anos, sem perder, jamais,
o interesse pelas artes e coisas do espírito. Já vi Castro Alves, Olavo Bilac,
João Cruz e Sousa, Mário de Andrade, Oswald, Guilherme de Almeida, Paulo
Bonfim, Cecília Meirelles, Augusto Frederico Schmidt, Manuel Bandeira, Vinícius
de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Setúbal, Mário Quintana, J. G. de
Araújo Jorge e tantos outros serem recitados com naturalidade por adolescentes,
recém entrados na adolescência.
Muitos, vira e mexe, retornam à moda. Outros tantos, jamais
voltam a ser lembrados. Quem perde mais com esse esquecimento, evidentemente, é
quem os esquece ou, pior, que sequer toma conhecimento de quem foram e do que
escreveram.
Os casos dos que nunca saem de evidência são muito comuns
(felizmente). Nem é preciso citar, pois todos os amantes de poesia têm seus
nomes (e seus poemas) na ponta da língua: Bandeira, Drummond, Vinícius,
Quintana, Cecília...
Aprendi muito com esses poetas. Fiz muito sucesso com as
meninas (quando adolescente, claro), recitando seus versos. Conheço décor pelo
menos uma centena de poesias desses meus ídolos de sempre. Não raro, quando
estressado e quero desabafar, saio pela casa declamando (para desespero e
constrangimento da mulher e dos filhos), versos como:
“Eu, filho do carbono e amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco
Este ambiente causa-me repugnância
E sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa à boca de um cardíaco.
Já o verme, este operário das ruínas
Que o sangue podre das carnificinas
Come e à vida em geral declara guerra
Anda a espreitar meus olhos para roê-los
E há de deixar-me apenas os cabelos
Na frialdade inorgânica da terra”.
Sabem quem é o autor
deste soneto? É Augusto dos Anjos, médico que foi, também, professor de
Português no prestigioso Colégio Dom Pedro II, do Rio de Janeiro. Foi um dos
poetas da moda nos chamados “Anos Dourados”, de meados dos anos 50 a meados dos
anos 60 do século XX. Seus poemas eram recitados a todo o momento e a
preferência recaía nos mais trágicos, tétricos e pessimistas.
Ganhei muito cartaz com as meninas recitando seus versos,
com pose de rebelde, por causa dos cabelos compridos (que na época eram o
máximo de transgressão que um jovem poderia cometer) e conquistei, rapidinho,
fama de poeta, embora meus poemas de então fossem pífios e quadrados. Creio que
cada um de vocês, queridos leitores, teve (e espero que ainda tenha) o seu
poeta da moda. Que bom seria se eles nunca fossem esquecidos, geração após geração!
Mas...
Boa leitura.
O Editor.
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Na internet Fernando Pessoa e Clarice Lispector são os campeões.
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