Preconceito
sem sentido
* Por Pedro J. Bondaczuk
Qualquer tipo de preconceito, seja em relação a o que for, é
nocivo e, portanto, condenável. O próprio significado da palavra já sugere o
quão insensato e perigoso é esse comportamento. Preconceber alguma coisa é
formar juízo sobre ela sem nenhum conhecimento prévio a respeito. Se, portanto,
nos relacionamentos sociais é condenável, em Literatura descamba para a burrice
explícita.
Há, neste vasto campo, objeto da minha preocupação diária,
inúmeros preconceitos, em especial a propósito de alguns gêneros. O alvo maior
desse comportamento nocivo e sem sentido é a novela (embora a poesia também
seja vista com maus olhos por muitos) e, por extensão, a dramaturgia em geral.
Inúmeros intelectuais, com empáfia e arrogância, torcem o
nariz face essa autêntica “mania nacional”, grande filão de audiência das emissoras
de televisão, notadamente da Rede Globo. Alguns, acusam-na de disseminar
maus-hábitos e comportamentos imorais entre as pessoas, principalmente as menos
instruídas e mais imaturas, no caso, crianças e jovens. Bobagem!
Dizia-se o mesmo, por exemplo, no século XIX (e boa parte do
século XX) a propósito do romance. Era comum, em colégios internos, professores
proibirem expressamente aos alunos a leitura de livros desse gênero. Eu,
inclusive, passei por esse tipo de constrangimento quando jovem.
Literatura não forja e nunca forjou comportamentos e muito
menos os nocivos e atentórios à moral e aos bons costumes, como argumentam os
moralistas de plantão. Limita-se a reproduzir a vida como ela é, ou como
poderia (e às vezes deveria) ser.
Moralidade e imoralidade estão na cabeça das pessoas.
Ademais, esse conceito varia com os tempos e gerações. Muita coisa que já foi
tida como “imoral”, num passado não muito remoto, hoje é encarada como
normalíssima e vice-versa. Em arte, não existe moralidade ou imoralidade (desde
que a obra seja, de fato, artística). O que há é bom ou mau-gosto. Mas isso já
é outra história...
A novela, aliás, é não somente alvo de preconceito, mas até
um gênero de difícil caracterização, por ser limítrofe. Há quem, por exemplo, negue
que sequer exista, caracterizando-a ou como um conto mais extenso, ou como um
romance mais curto. Entendo, todavia, que essa é uma questão meramente
acadêmica e sem nenhuma relevância para quem quer que seja. É o mesmo que
discutir “sexo dos anjos” ou algo que o valha.
Defendo, sim, a difusão do gênero na televisão e, ao
contrário dos seus detratores, vejo nisso até um benéfico efeito didático, num
país em que a educação ainda é cheia de imperfeições e considerada “privilégio”
de determinadas classes sociais. Ademais, cabe exclusivamente aos pais
esclarecer os filhos sobre a natureza do que assistem na telinha, distinguindo
o que é nobre, bom e saudável do que é vicioso, inoportuno e errado.
Há quem tenha a mania de achar que “todas” as pessoas são
estúpidas, imaturas e tolas e que são influenciáveis pelas histórias mais
simples e banais, que, na verdade, se analisadas com rigor e bom-senso, não
passam de “água com açúcar” quando comparadas aos terrores, patifarias e taras
da vida real. Idiotas da objetividade, por favor, deixem as pessoas sonhar!!!
* Jornalista, radialista e
escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes
Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular
onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio
Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia”
(ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal”
(contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991 a maio
de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição
comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio
de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O
Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
A novela copia do mundo real e não o contrário.
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