Quem
tem medo do novo acordo ortográfico?
* Por
Domício Proença Filho
O Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa, em 1990, por sete dos oito países
lusófonos, foi finalmente promulgado por decreto assinado pelo Presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, na Academia Brasileira de Letras. Era o último documento
exigido para a sua efetiva entrada em vigor no Brasil. O ato, emblemático, a
data, significativa: 29 de setembro de 2008, dia do centenário da morte de
Machado de Assis.
A nova regulamentação
da ortografia, em território brasileiro, passa a vigorar a partir de 1º de
janeiro de 2009. Com um período de adaptação que se estende ao início de 2012.
Alguns pronunciamentos divergentes sobre a matéria tornam oportuna a reiteração
de alguns aspectos que a caracterizam.
O Acordo regula a
representação escrita da língua. Incide apenas sobra a roupagem das palavras e
as notações léxicas. Nada muda em termos do vocabulário, da pronúncia, da
estrutura das palavras da combinação de umas com as outras. A língua portuguesa
como sistema permanece, em todo o território da lusofonia, fiel aos mesmos
princípios organizatórios. Continua a mesma em sua realidade comunitária, viva,
mutável, marcada pela unidade na diversidade e vice-versa, em processo.
Integrada à dinâmica da cultura em que se insere.
Trata apenas do
estabelecimento de cânones, em certa medida simplificadores. Em tal condição,
abertos a revisões e modificações. Ortografia é convenção. O documento
regulador institucionaliza e legitima, nessa direção, normas consensual e
legalmente válidas para todos os países da comunidade lusófona. Estabelece
alguns critérios novos. Modifica outros. Mantém e, consequentemente, valida a
maioria dos critérios anteriormente em vigor.
Associam-se, na sua
fundamentação, o critério fonético, ou da pronúncia, eo critério etimológico, o
primeiro "com um certo detrimento para o segundo", como explicita a
nota explicativa alusiva ao texto-base. Leva em conta, nesse sentido, as
diferenças de pronúncia das comunidades envolvidas e autoriza que a grafia
adotada seja a que corresponda à pronúncia culta (é o adjetivo usado). Em
alguns casos, também à pronúncia geral de cada país. isso significa, para
lembrar um exemplo, que, no Brasil continuaremos a escrever Antônio e nas demais
nações lusófonas se continuará a escrever António.
O texto regulador, ao
assumir a diferença, não privilegia a unificação. Simplifica, e timidamente.
Essa simplificação, entretanto, tem condições, entre outros atributos, de
contribuir de maneira positiva para a agilização do processo de alfabetização
em todas as faixas etárias. O que se torna extremamente importante na realidade
contemporânea do Brasil, sobretudo diante das recentes estatísticas apontadas
por órgãos especializados, a propósito de analfabetismo, funcional ou absoluto,
da escrita e da leitura deficientes. Desnecessário lembrar que o domínio de
ambas é fundamental como fator de inserção do país na qualificação
modernizadora do progresso.
O principal atributo
do Acordo, como assinala a percuciência do embaixador e acadêmico Alberto da
Costa e Silva, é a legitimação e a institucionalização de um documento
oficialmente válido para todos os países lusófonos.
Em decorrência,
acrescento, possibilita, para citar um aspecto, a ampliação do mercado
consumidor de livros e periódicos, com a mobilização de leitores em todo o
universo lusofônico, mesmo com a ressalva relacionada com o perfil dos leitores
e com a necessária e urgente superação dos limites do mútuo conhecimento.
A língua escrita, por
outro lado, como fator relevante de aproximação e de unidade, passa a
contribuir ainda mais para a solidificação dos laços e dos interesses que
integram a comunidade da lusofonia. Sem prejuízo das diversidades que
caracterizam as identidades culturais dos países de África e do Timor Leste,
onde o português, língua oficial, divide espaço com as línguas nacionais.
O caráter das
mudanças, o tempo destinado à adaptação e a bibliografia especializada
facilitarão o percurso da adoção plena da nova ortografia.
*
Professor e escritor, membro da Academia Brasileira de Letras, instituição da
qual foi presidente.
Ainda não sei se foi bom ou ruim. Minha crítica principal é a falta de regra para o uso do hífen, verdadeiro exercício de adivinhação.
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