Os injustiçados
Bjornstierne Bjornson, Frédéric
Mistral, José Echegaray Eizaguirre e Giosué Carducci. Você conhece esses nomes?
Não? Pois são ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura do início do século XX.
Enquanto isso, o nosso Machado de Assis sequer foi indicado para essa honraria.
É verdade que sua vasta e instigante obra só agora ficou conhecida em âmbito
internacional. Mas que merecia um reconhecimento pelos seus méritos literários,
creio não restar nenhuma dúvida.
Não cometerei a mesma injustiça da
Academia Sueca, encarregada da premiação e não direi que os (para mim) ilustres
desconhecidos não tenham reunido méritos para a premiação. Até porque, nunca li
nenhum livro deles. Não estou, pois, habilitado a avaliar o seu talento. Mas o
nosso Machadão também reuniu méritos para lá de excepcionais, e com sobras.
Foi, portanto, um dos milhões de injustiçados do Nobel, que neste ano completa
115 anos de existência. Soube, por notícias colhidas aqui e ali, que neste 2016
o Brasil tem candidato de peso para a premiação. Aliás, trata-se de candidata:
Lygia Fagundes Telles. Fosse um dos membros da comissão julgadora do Nobel de
Literatura, não teria nenhuma dúvida. Premiaria, sem pestanejar, nossa
competentíssima candidata. Mas...
Outros que mereceriam ser laureados, e
nunca foram lembrados, foram, por exemplo, Fernando Pessoa, Jorge Luís Borges,
John dos Passos, F. Scott Fitzgerald, Morris West e uma infinidade de
escritores, hoje tidos e havidos como autênticos clássicos. É certo que nomes
ilustríssimos foram lembrados e que, na época da sua premiação, muitos deles
foram contestadíssimos. Hoje, essa contestação já não existe mais.
Ninguém pode dizer, por exemplo, que a
premiação dada a Sully Prudhomme (o primeiro escritor a receber um Nobel de
Literatura) tenha sido injusta. Ou que as de Henryk Sienkiewicz (autor de “Quo
Vadis”), Rudyard Kipling, Rabindranath Tagore, Romam Roland, Knut Hamsun,
Anatole France, William Butler Yeats, George Bernard Shaw, Henri Bérgson,
Thomas Mann, Sinclair Lewis, Luigi Pirandelo, Eugene O’Neil, Pearl S. Buck,
Gabriela Mistral, Herman Hesse, André Gide, T. S. Elliot, William Faulker,
Bertrand Russell, François Mauriac, Ernest Hemmingway, Albert Camus, John
Steinbeck, Jean-Paul Sartre, Miguel Angel Astúrias, Pablo Neruda, Octávio Paz
ou Gabriel Garcia Márquez foram imerecidas. Foram lembranças oportunas, justas,
justíssimas.
Injustos foram os esquecimentos de
William Sommerset Maugham, Guimarães Rosa, Mário Vargas Llosa, Carlos Drummond
de Andrade e uma infinidade de gênios literários, que sequer chegaram perto de
uma indicação.
Tratei desse tema “n” vezes e tratarei
quantas vezes mais julgar necessário e oportuno, “provocado” ou não por
leitores, porque não me conformo com as omissões. Para muitos, o Nobel não tem
nenhuma importância. Discordo. É a premiação mais prestigiada e conhecida e
determina sucessos (ou fracassos) editoriais. Claro que nem todos os que
merecem (e são, sem nenhum exagero) não podem, por motivos lógicos, ser
premiados. Mas o que entendo como equívocos de julgamento da comissão
responsável pela atribuição do prêmio são grosseiros demais para não serem
notados.
Outra coisa que causa estranheza é o
baixo número de mulheres premiadas. Entre 114 escritores que já receberam o
Nobel de Literatura, elas foram, apenas, CATORZE! Isso mesmo, praticamente só
dez por cento do total. Foram as seguintes: : Selma Lagerlöf, Grazia Deledda,
Sigrid Undset, Pearl S. Buck, Gabriela Mistral, Nelly Sachs, Toni Morrison,
Nadine Gordimer, Wislawa Szymborska, Elfriede Jelinek, Doris Lessing, Herta
Mueller, Alice Munro e, por último, Svetlana Alexijevich, no ano passado. Essa
omissão fica ainda muito mais clara e evidente se atentarmos para o fato que
51,5% da população mundial é composta por pessoas do sexo feminino.
Voltando às indagações do início destas
reflexões, você conhece, leitor amigo, o romancista francês Jean-Marie Gustave
Lê Clézio? Não? Eu o conheço apenas de nome. Ele foi o ganhador do Nobel de
Literatura de 2008. Qual dos seus livros está entre os best-sellers, não digo
mundiais, mas do seu país natal, a França? Nenhum! E ainda assim, foi premiado
como o melhor escritor do mundo de 2008! Dá para entender isso? Qual o critério
da Academia Sueca para premiar alguém? Você conhece? Eu não conheço! Existe
algum? Fica a indagação.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Nunca li sobre compra de Nobel, mas também não posso jurar que nunca aconteceu.
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